Capítulo 07: Caverna do Diabo

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Himalaia, Paraíso

Hayley, a quarta Senhora de Guerra, que buscava sair do Paraíso e não guerrear aquela guerra sem sentido, chegava à caverna num dos pontos mais altos da montanha onde, alguns meses antes, Kane havia estado. Desde sua conversa com Leonard Ross em Londres, ela vinha rastreando os movimentos de Kane, que decidira abandonar, com alguns homens, sua cidade murada na Romênia, Bucareste, e estava marchando com seus homens para leste, por algum motivo que ela queria muito descobrir.

Seus outros dois irmãos, Baldwin e Grant, haviam ficado na base da montanha. Não quiseram subir até ali com ela.

Diferente da maioria dos Filhos do Abismo, ela e seus quatro irmãos, Baldwin, Grant, Newton e Zoe, adotaram os nomes das almas que possuíram, pois, basicamente, eles tinham se tornado eles. A verdadeira Hayley estava dentro dela, falava de vez em quando, mas as duas estavam cada vez mais misturadas, unidas, tornando-se um ser. No entanto, o Filho que dominara Hayley, cujo antigo nome era Piersym, não tinha a menor ideia de quando elas estariam completamente unificadas. Poderia levar meses ou anos.

Ela cravou o piolet com força pela última vez, depois disso, ela conseguiu entrar na caverna. A noite estava próxima, e ela estava cansada demais para explorar aquela; não sabia se poderia encontrar perigos e, naquele estado, seria difícil usar as sombras para se defender. Acendeu uma fogueira para tentar aguentar o frio daquelas alturas – uma desvantagem de se unir a alma, é que você começa a sentir todas as fraquezas que as almas sentem; frio é uma delas; Piersym desejava que não pegasse uma das temíveis gripes de que Hayley lembrava-se de sua vida na Terra.

Quando a noite chegou, ela alimentou-se dos mantimentos que havia trazido na pesada mochila e dormiu. Os Filhos do Abismo não sonhavam, e essa, infelizmente, não era uma das qualidades de Hayley que Piersym tinha absorvido, infelizmente. Hayley tinha lhe contato muitos e muitos sonhos distintos, mas que eram sempre divertidos, isto é, quando não acabavam sendo um pesadelo.

Contudo, naquela noite, ela se pegou lembrando-se da Primeira Guerra Celestial, quando foram criados. O total de Filhos era um pouco superior a um milhão – mesmo que esse número tivesse diminuído um pouco por causa de Miʻridʻrin. A cada cem mil que nasciam exatamente como a Morte queria, um nascia defeituoso: estes não tinham o desejo de lutar contra os anjos. Esses cinco que nasceram escolheram Piersym para liderá-los contra a guerra, mas ela falhou com eles, e a própria Morte os selou-o de volta ao Abismo. Eles, nem ao menos, lutaram na Primeira Guerra.

Agora eles tinham uma segunda chance, se Piersym não estragasse tudo outra vez. E melhor do que antes, eles tinham um lugar para ir: Terra. Um mundo tão especial para o Criador, que o Paraíso tornou-se um reflexo dele. Hayley iria levar seus irmãos para lá, mesmo que sua própria vida fosse destruída no processo.

Pela manhã, quando a luz entrou na caverna, ela despertou. Não se lembrava de quando tinha dormido; ela caíra na escuridão da inconsciência em algum momento. Recolheu suas coisas e passou a caminhar para o fundo da caverna.

Como uma Ganaruryak, ela não tinha medo das sombras. Eram parte dela, tanto quanto Hayley. Caminhou por longos vinte minutos até que ela sentiu o chão ficar mais macio, era como pisar na neve. Ela abaixou-se para ver melhor; estava muito fundo na caverna para haver neve ali, a não ser que houvesse uma abertura, mas a ausência de luz natural indicava que isso não era uma possibilidade.

Tomou um pouco na mão e aproximou dos olhos. Naquela escuridão, não seria capaz de distinguir cor, mas não conseguia ver nem um pouco do branco que normalmente veria se aquilo fosse neve de fato. Por isso, acendeu um pequeno isqueiro; para sua surpresa, aquilo era neve sim, mas não era branca, era tão negra quanto às sombras que ela manipulava.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora