Capítulo 17: O Templo de Rae'au (+sinopse e capa de Póstumo)

361 36 9
                                    

1492

Jared andava de um lado para o outro no imenso quarto onde o tinham hospedado há algumas horas. Sua cabeça viajava pelos acontecimentos que o tinham levado até ali. Ele estava na maior ilha de um arquipélago, de sete ilhas. Aparentemente, as pessoas estavam esperando por ele, pois uma profecia tinha dito que ele viria.

Durante toda a sua vida, ele nunca acreditou em tais coisas como profecias, monstros marinhos, magia e ilhas misteriosas protegidas por escudos azuis. Nada disso fazia sentido para ele. Sim, acreditava que havia muitas terras a serem descobertas, mas nada como Ēt'alānktik. Qualquer lugar que encontrem será igual à Europa: simples, sem magia e com animais. Talvez, é claro, com algum povo nativo selvagem.

Sentou-se na cama, e descobriu-a extremamente macia. Fez peso no colchão; pelo barulho e pela forma fluida como se mexeu, soube que era um colchão d'água. Pela primeira vez, ele deixou suas preocupações de lado e observou o quarto. Era grande, maior do que o Ouriço Azul, bar e tudo. Havia uma mesa de madeira rústica, porém lisa e bem trabalhada, em um dos cantos, próxima a parede leste, com quatro cadeiras ao seu redor; havia um armário imenso, mas vazio. Uma porta introduzia a um banheiro estranho – havia ali algo diferente das latrinas e baldes que estava acostumado; era uma espécie de balde misturado com cadeira, mas o qual ele ainda não tinha tentado usar.

Resolveu que tinha de descobrir mais sobre essa tal profecia, mas não conhecia ninguém naquele lugar, exceto por uma pessoa: Nak. Será que eles permitiriam que uma ladra como ela voltasse para a ilha principal se o pedido viesse dele? Bem, não custava arriscar, afinal, o rei dissera que ele poderia ter o que quisesse.

Jared abriu a porta e descobriu um par de guardas parados nos flancos dela. Fitou a ambos, mas com estava de costas para ele, não o viram.

– Com licença, olá. – Ele disse, um pouco envergonhado; um dos guardas se virou, ele não parecia nem um pouco feliz de ter que falar com Jared. – Será que eu poderia conversar com o rei? Preciso pedir algo.

O guarda bufou, irritado, mas deixou seu posto. Jared voltou para dentro do quarto, sentou na cama e esperou, fitando os dedos dos pés. O rei apareceu com um sorriso falso no rosto e usando as mesmas roupas de horas atrás. Ele não parecia contente, ou talvez Jared houvesse interrompido algo importante; não sabia dizer.

– Como posso ajudá-lo, Jaredblackwood? – Ele perguntou.

– Por favor, apenas Jared. – O visitante respondeu. – Eu preciso de companhia.

– Sim, mas é claro. Vou mandar chamar uma das concubinas de meu próprio harém.

– Não, não é esse tipo de companhia. – Pela primeira vez, Jared se viu negando a companhia de uma mulher, mesmo que fosse para trocar pela de outra. – Quero falar com Nakṣatra Cōro'g'ri.

– A ladra? – O rei vociferou; sua máscara de simpatia caindo no mesmo instante. – Não permitirei que aquela mulher retorne para meus domínios!

– Mas, vossa majestade, ela ajudou-me quando eu cheguei aqui. Eu estava ferido, e ela cuidou das minhas feridas. – Apesar de ela, de fato, tê-lo ajudado com comida e a magia para ele falar aquela estranha língua, pareceu melhor mentir para apelar mais ao coração do rei.

O nativo bufou, deu as costas para Jared; então, foi até a porta e abriu-a. Antes de sair e sem virar-se para o visitante, ele disse que Nakṣatra Cōro'g'ri estaria com ele dentro de algumas horas. E sua palavra foi cumprida.

Nak foi lançada para dentro do quarto. Marcas roxas em seus braços morenos indicavam que ela tinha sido fortemente segurada por alguém e arrastada até ali. Jared ajudou-a a se levantar e, assim que o viu, abraçou-o. Ele estranhou o gesto, não estava acostumado.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora