Capítulo 34: O Anjo Esquecido

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Saransk, Rússia

Paraíso

A floresta densa, de solo forrado por um manto branco e macio de neve, era cortada por uma estrada de ferro que saía de Moscou e seguia para o norte, indo muito além do que os homens poderiam ir vestindo apenas uma túnica de algodão. Isto é, se estivesse na Terra. No Paraíso, apesar das aparências, não há frio demais ou calor demais. A temperatura é sempre a mesma.

No entanto, desde o começo da guerra, as coisas haviam mudado. Ou melhor, ainda estavam mudando; a cada dia, o Paraíso ficava mais parecido com a Terra. Miguel apenas não tinha certeza se isso era algo bom ou ruim para ambos os mundos. Estavam, de certa forma, conectados; apenas Miguel, como General, sabia que aquela Guerra estava transformando não apenas o Paraíso, mas também a Terra – mesmo que as mudanças lá não era tão sentidas como ali. Quanto mais tempo a guerra continuasse, pior seria para ambos os mundos.

Miguel continuou seguindo a linha férrea. Lael o seguia de perto, preparado para um combate que a qualquer momento poderia acontecer. De acordo com os anjos, a magia celestial havia detectado a presença de Amsharg e Gashgor naquela região. A dupla estava próxima, podia sentir.

Ao mesmo tempo, Lael preparava alguns feitiços. Gashgor era um Pnamryak, e como tal, podia ir para qualquer parte do mundo em questão de segundos. Miguel tinha que preparar uma maneira de impedir que o Filho fugisse outra vez, e essa era a função do anjo. Ele estava forjando uma barreira como a que havia em Nova Jerusalém, porém menor e menos complexa. E ao invés de impedir que os Filhos entrassem, os impediria de sair.

A estação estava abandonada. Miguel apenas não tinha certeza se estivera assim antes da guerra, ou se os Filhos tinham causado. Sabia, todavia, que os dois Filhos que estavam caçando haviam se instalado ali. Um movimento de cabeça indicou a Lael para ficar do lado de fora, onde começaria a fazer seu feitiço.

Uma batida leve de apenas duas de suas seis asas permitiu que ele subisse a plataforma. Sacou sua espada e entrou ao mesmo tempo em que a cúpula levemente prateada cobriu a estação; de acordo com o plano, se Gashgor estivesse ali dentro, Lael teria que diminuir o espaço do feitiço até que o Pnamryak não tenha mais espaço para onde se teleportar.

Por dentro, o lugar estava uma bagunça. Um trem estava caído de lado, para fora da linha, e sobre a plataforma, que não sustentou o peso. O silêncio sepulcral era de arrepiar a nuca, não que Miguel sentia medo; era um querubim. Talvez, se fosse humano, ele sentiria medo ou, ao menos, tensão.

Ouviu vozes vindo do outro lado do local. Caminhou devagar, tentando não fazer qualquer barulho; para ele, isso era fácil. No entanto, as vozes pararam. Os dois surgiram no ar em seguida; seus olhos arregalados de surpresa, pois não esperavam que fossem encontrados tão rapidamente. Gashgor, sem ter qualquer outra opção, transformou sua mão em um facão e desapareceu, apenas para surgir acima da cabeça do querubim. Miguel bloqueou com sua espada. Gashgor desapareceu outra vez, e ressurgiu ao lado de Amsharg.

– Libere os experimentos. – Ele disse, com um sorriso.

Levou apenas um estalo de dedos para mais anjos de asas cortadas virem correndo até Miguel. Ele se defendeu com destreza e sem problemas, tentando, ao mesmo tempo, não feri-los, de modo que pudesse ajudá-los no futuro.

Gashgor colocou a mão no ombro de Amsharg e desapareceram, entretanto, eles não saíram do prédio. Miguel deu um último golpe, levando o último à inconsciência. Ele virou-se para os dois Filhos, que fitavam a parede como se ela fosse algum tipo de monstro.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora