Saikai, Japão
Terra, 903d.C.
A água gelada despertou-o pela trigésima vez. Minato não tinha certeza de quantos dias já estava preso, mas havia contado, pelo menos, três semanas. Durante esse período, ele havia apanhado, sido cortado por lâminas inimigas e torturado de maneiras impensáveis. Não queriam que ele morresse, por isso, haviam costurado o corte em suas costas feito pelo ninja e, diariamente, limpavam e trocavam o curativo. Não queriam que infeccionasse.
Naquela manhã, ele havia sido banhado e vestido com roupas de algodão macias e limpas. Reconheceu o corte de calças largas e camisa cruzada na frente, tudo preso por uma faixa de pano mais grosso na cintura. Eram as roupas de um samurai nos dias de folga; se fosse a roupa para uma batalha, seria uma armadura.
À ponta de uma espada, ele foi arrastado até uma sala que ele conhecia. Ficava no centro do casarão de Eiichi Ronyama; nela estavam os líderes do clã Ronyama, que se espalhavam por todo o mundo, sentados em almofadas imensas e muito mais confortáveis do que a cama de pedra que ele dormia. Sentado em uma cadeira forrada com pele de algum animal, Eiichi fitava a todos com desdém, pois era o líder do clã.
– O melhor samurai de todo o Japão, capaz de derrotar até mesmo os ninjas mais caros que o ouro pode comprar. – Eiichi disse; havia um nível de raiva em sua voz; Minato sorriu, pensando em Yoake. – Pensou em nossa proposta?
– Eu não vou treinar ninguém. – Minato retrucou, sugando toda sua força. – Não sou um mestre, nem serei.
– Traga-a. – Eiichi olhou para o lado, tentando enxergar a porta que estava atrás de seu trono.
Um soldado usando uma armadura completa entrou, puxando com uma das mãos Aihara. Ela estava maquiada como uma gueixa: rosto branco, bochechas avermelhadas e boca vermelha como pimenta. Sua roupa, também, era característica; um kimono de seda azul e cabelos presos em um coque por dois palitos de madeira.
– Aihara! – Minato gritou, tentando ir até ela, mas um dos guardas segurou-o pelos braços. – Eles te machucaram? Fizeram algo contra você.
– Não, estou bem. – Ela respondeu, sem perder a calma; ela também fora assim quando Minato a sequestrara.
– Creio que se lembra de nossa amiga, não? Sua missão original. – O tom de Eiichi era de pura superioridade. – Se não aceitar, os quarenta e sete homens que você deixar de treinar, vão treinar com ela.
O samurai ficou pensativo por um minuto. Pensou em seu filho. Pensou em ser um herói. Um herói sempre colocava a si por último. Os outros eram mais importantes. Respirou fundo e encarou Eiichi diretamente em seus olhos sombrios.
– Eu aceitarei sua proposta, mas sob duas condições: ninguém tocará em Aihara e, segundo, eu quero ter uma conversa privada com ela. – Minato disse, como se estivesse em condições de negociar qualquer coisa. – E quero um quarto digno de minhas habilidades, além de minha katana.
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Afterlife: Heartless
Fantasy"A Morte tem seus planos, e sei que em nosso segundo encontro, nem tudo foi revelado. Algumas peças ainda estão faltando, e eu sou aquele que está próximo o bastante para descobrir. Mas... Por quê? Ela... Ela se foi. Presa em sua própria falta de co...