Capítulo 5 - Últimas Palavras

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O dia seguinte fora particularmente turbulento para o garoto rancoroso e o resto do mundo, o dia em que a Terra de Sombras começara a fazer valer o nome, o nome que perdurara por maus e infinitos tempos.

Lankher levantou-se às pressas, atrasado para seu treino, e se vestiu com um caótico afinco. Sonia não o repreendia; na verdade, ela quem o encorajava.

- Vamos, filho, vamos! - dizia ela. - Não vou aceitar se Anne chegar primeiro que você! Não chegue depois das 9 Instares! E leve algumas frutas. Tente não se machucar!

- Certo, mãe, certo! - respondeu o garoto, um pouco estressado.

Saiu de casa, andando a passos largos na direção oeste de Render, visando encontrar-se com Guinn e seus malditos alunos.

Ao andar pelas ruas desiguais e destruídas de Ozit, Lankher vira mercenários vagando na mesma direção que ele, à floresta. Estavam todos armados com adagas, daquelas pontiagudas e ameaçadoras, e trajando armaduras, de aparência surrada. Com certeza não eram do castelo. Então, quem eram?

Eles aceleraram o passo assim que adentraram a floresta, e Lankher, curioso como sempre, entrou com eles.

Os homens eram ágeis e perspicazes, pulando sobre troncos velhos e esquivando de galhos quebradiços. Lankher seguia atrás. Primeiramente pensou em segui-los a uma certa distância, cem metros, mas então percebeu que se andasse muito atrás se perderia deles. Então se aproximou mais, também aproveitando as deixas de caminho livre que lhe deixavam.

Eles chegaram ao extremo da floresta, onde havia uma enorme barreira sendo construída. A barreira já devia estar com uns 10 metros, mas havia homens fazendo mais metros de altura. Lankher se escondera atrás de uma rocha pontiaguda no início da floresta, para observar.

Os homens se dirigiam à barreira que dividia Aimo de Ozit, e estavam com as mãos tremulantes, ou os olhares vacilantes. Estavam nervosos, era claro, quase como se houvessem fugido de uma batalha. Então, o homem mais alto do grupo correra até a barreira, e gritara algo para os de cima. Mas Lankher, com o coração voando do peito ao esôfago, só ouvia batidas. Seu corpo estava a lhe trair.

Mas aí percebera que a barreira não dividia Aimo e Ozit, como pensara. Dividia as cidades de Ozit. Vint e Render. Riqueza e pobreza. Como a Barreira de Selia, que dividia Aimo em duas partes, ou a barreira mística de Casa do Mar, em Drome. Só podia ser obra de Rick.

Num piscar de olhos, a gritaria transformou-se numa batalha; machados e pás eram atiradas de cima, enquanto adagas lhes eram distribuídas. Os sons de dor e berros de agonia eram insuportáveis. Pareciam uma explosão, barulhos em meio à serenidade. Lankher não conseguia ver, e nem queria. Não queria gastar sua fúria com os construtores, como os plebeus; sabia que a culpa não era deles.



Depois de uma corrida pela floresta, com os pensamentos ainda embaralhados na mente, Lankher dirigira-se para o treino. De longe, já conseguia identificar Anne, com sua beleza extravagante e seus olhos pertinentes. Lankher tinha a singela impressão de que Anne deixava o local de lutas sangrentas, cheio de memórias tenebrosas, mais belo.

Bom, pelo menos ela deixava Lankher mais bonito, isso era fato. Lankher sorria de um jeito especial ao vê-la. Nunca sentira atração por alguma garota antes, mas a atração por Anne era mágica e ao mesmo tempo confusa: gostava dela, mas nada além disso; achava-a linda, mas não a via como um par. Suspeitava ser por causa da idade, mas não tinha nada a ver com isso.

Anne, ao vê-lo, correu até ele, com seus sorrisos tão confortáveis, e o abraçou, de forma tranquilizante. Lankher não sabia o que fazer, então apenas repetiu seu movimento, pondo seus braços sobre as costas dela. Anne o observou cautelosamente após se soltarem.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora