1 - Terra de Sombras - A Revolta de Ozit

Capítulo 32 - A Esperança da Revolta

Lankher

 Após 22 Instares de viagens pelas terras irregulares de Drome, fugas incansáveis dos Caçadores de Ceroza, e várias paradas frenéticas por conta de sono e fome, chegamos ao sopé da Primeira Montanha Seca.

As Montanhas Secas eram constituídas por uma cordilheira de dezenas de montanhas altas e planas em seus pináculos, e diziam que todas elas guardavam segredos obscuros em seus topos. Na ocasião, estávamos indo na direção da Terceira Montanha Seca, onde ficava o Templo do Calmo.

O Feltid era feito com o Sexto dos Sete Metais, o Torium, classe Caos, que era capaz de atravessar as barreiras invisíveis do tempo. Com ele, poderia-se fazer viagens que levariam dias em poucos Vultares ou ir para dias diferentes, e alterar o passado. Com isso, pretendia evitar a morte de Anne e Travis, meus melhores amigos. E também pegar o elmo da Glout 4, que fui tolo a ponto de deixar na mina.

Eu, Szanghi, Zelish, o Curandeiro e Astellor chegamos à Primeira Montanha Seca, enquanto ainda éramos arduamente perseguidos por alguns Caçadores. Enquanto fugíamos, Szanghi me contava sobre o livro de Sandra, a mulher que cuidou de mim. Ainda sentia dores na cabeça, e um completo medo das Glouts. Se soubesse desde o início tudo o que me aguardava nos desafios, a mim e aos meus amigos, jamais teria tido essa ideia. Não valia a pena a dor que aquilo causava. Pensava seriamente em fingir que nunca conheci Anne e Travis para não precisar voltar para aquela mina agonizante, mas simplesmente não era certo.

Lembrei-me, com um peso enorme sobre mim, que 27 de janeiro (o dia da guerra) fora o dia que Anne fizera 16 anos. E eu não pudera dar seus parabéns.

— Prenda os cavalos! — Szanghi gritou, enquanto descia de seu alazão e desembainhava Duas Dores, uma adaga muito torta e cruel feita de prata, o metal mais precioso da época. Uma flecha passou perto de Balshin, mas ele continuou inexpressivo, como se não a temesse.

Zelish, ao invés de obedecer ao comando, pegou sua aljava de flechas, enquanto tropeçava em suas pequenas pernas. Anões não tinham um corpo próprio para lutar, mas ao se dominar as técnicas... eles sabiam bem usar o tamanho em seu favor. Astellor levou os cavalos para perto de umas árvores próximas dali, junto com Balshin.

Peguei Cura, minha confiável, e avancei contra os Caçadores, enquanto os anões corriam pela Segunda Montanha. Eles não usavam flechas, nem dardos, e muito menos espadas ou cimitarras; matavam com machados, obras raras, cobertas de topázios. E eram muito bons.

Tentei mata-los, mas eles eram muito habilidosos. Eles com certeza sabiam as técnicas de toda a Terra de Sombras, e haviiam lido muito mais livros que eu. A cada chute potente dado com a Glout, uma defesa inesperada, e um contragolpe com o machado. Logo minha armadura se reduziria a simples metais fundidos.

— Corra, garoto! — Szanghi disse, enquanto virava-se para subir a montanha. Aquela era a Terceira, a que precisávamos escalar.

— Como matamos eles? — Zelish perguntou, notavelmente sem muitas de suas flechas adicionais, e os homens ainda todos de pé, a avançar. O fato de eles não dizerem uma palavra era ainda mais cáustico. Logo o Curandeiro e Astellor nos alcançaram, e admirei-me ao ver como seres pequenos podiam correr tão depressa.

— Quando descobrir lhe direi! — Szanghi respondeu.

Subimos a Montanha correndo, e agradeci a Deus pelo fato dela ter muitos degraus para se subir, poupando-nos de precisar escalar. Subimos numa velocidade incrível, e ao chegarmos à metade, já não ousava olhar para trás. Minhas pernas recusavam-se a obedecer. A montanha era um exagero da natureza.