Capítulo 15 - Ouro e Porcelana

47 17 0
                                    


Rei Rick



 Desde o incidente com as concubinas, precisava ter a iniciativa.

Daquele dia em diante, havia dois anos, a confiança perdera seu significado: passara a conviver com a traição. Nunca me disseram que seria simples governar sobre um reino tão impactado, mas precisava ao menos tentar. E ainda havia o problema com Aimo, o povo mais influente e a potência da Era Misteriosa.

Todos gostariam que fracassasse. Se vencesse, não sei o que seria deles.

Tentava resolver os problemas da melhor forma possível, porém era mais complicado que simplesmente dizer: havia, primeiro, o problema de falta de herdeiros para o trono. Sim, o estresse afetava-me, e não conseguia plantar minha semente em nenhuma das que tentara. Nem com a moça com quem me casara havia conseguido...

Além disso, haviam os roubos de alimentos. A falta de comida enlouquecia tanto a mim quanto a todos. Mellow não parecia se importar com o enorme povo sob minha sofrida direção, mas seus combatentes eram mais poderosos, o que me restava além de ser apedrejado?

Quando meu pai falecera, tinha tudo para me tornar um rei muito poderoso e querido pelo populacho de minha província. Reind havia concluído tudo o que começara, e havia até limpado as máculas causadas por antigos reis, durante a incerta Era Maldita. Se eu apenas deixasse tudo como estava, controlando apenas a moeda da exportação em transporte, seríamos uma potência da Nomeável. Infelizmente, o rei de Aimo, inimigo de meu pai, não esquecera as batalhas que travara com ele, e parecia não satisfeito, mesmo após causar a morte de minha mãe.

Por isso, lá estava eu, cavalgando na direção de Scalambo, Aimo, junto com mais 23 guerreiros, 12 arqueiros, meu escudeiro leal e meu primo Sidder. Trinta e oito insensatos homens, lutando por um reino quebrado.

Era início de verão, o que deixava o clima muito agradável, mas era questão de tempo até que se tornasse insuportável. Todos (excluo aqui os arqueiros) andávamos em cavalos, sendo o meu o maior, o corcel negro de batalha que batizei de Dor. Dor esmagara tantos anões em tempos passados que lhes devia ser um inimigo especial para as próximas guerras. Os anões haviam sido expulsos dos reinos, e se escondiam nas florestas desde então. Um povo hostil, que com certeza planejava vingança.

Lembrava-me da Guerra dos Anões; tinha não mais que 17 anos, mas o entusiasmo fizera-me crescer quando com uma arma. Meu pai ensinara-me a utilizar um machado de guerra, e pusera-me no meio da ação. A batalha fora longa e levara com ela muitas almas, o cheiro sobre o campo era pútrido até os ossos, porém eu e meu fiel corcel continuávamos de pé, e o primeiro triunfo de um rei é inesquecível.

Infelizmente, perdi o controle do resto.

Paramos a umas duas milhas do castelo de Aimo, sobre a Montanha de Astra. Um ótimo ponto estratégico para se ver o castelo, com todos os flancos radiados pelo agradável sol.

— Estão com medo? — Minha voz era sempre clara, por causa do Tronet. Meus homens tremiam diante de uma afronta ao ladrão que se intitulava rei, mas precisava transmitir confiança.

Alguns balançaram a cabeça, outros mostraram que não eram a favor de meu plano, na verdade, o de Sidder. Ele era meu conselheiro mais ativo, sempre com boas ideias e estratégias sobrepostas. Diziam-me o contrário, mas não conseguiam superá-lo.

— Perfeito — disse. Virei-me para meu conselheiro. — Confirma a ação?

Sidder fora escolhido por meu pai, Reind, antes de sua morte. Sidder nunca considerara meu querido pai um homem justo, mas não havia do que reclamar, visto que tinha um lugar entre os nobres e nunca passara fome nem apanhara, como quando com o asqueroso tio Paul. Sidder fugira para os braços de meu pai, lá ficara até a morte de seu pai, e até hoje carregava uma tristeza, próxima ao trauma.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora