Capítulo 27 - Cratera de Zast

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Anne

 Fui arrastada pelos homens altos e fortes até um cais de Aimo, na fronteira com o Mar Continental que levava para o Centro, o local que era o exato meio entre a Terra de Sombras, inabitado e nada seguro. Não havia mitos sobre ele. Ninguém voltara de lá vivo, com exceção de Selia XIII, que havia perdido a memória.

Um pouco antes do início do cais havia uma cratera enorme no chão, com frestas irregulares e desníveis que lembravam uma depressão. Dentro havia várias barracas, todas cor de marmelo, e também capas enormes transparentes, para proteger o local da chuva. Várias mulheres, trajando apenas saias de palhas e musselina, que mal escondiam sua nudez, gritavam em outro idioma, fazendo gestos carinhosos para os homens.

— Sei que você é novinha — Axel sussurrou em meu ouvido —, mas acho que já está na hora de você conhecer o mundo como ele é de verdade.

Empurraram-me para dentro da cratera de 4 metros, e caí sobre uma parte da capa, o que amorteceu levemente minha queda. As mulheres riram, e os homens começaram a descer por um desnível que lembrava muito uma escada.

— Venham, agora! — os homens berravam, enquanto agarravam as mulheres, e jogavam-nas no chão. Fechei os olhos, sentindo medo demais para ver o que fosse.

Fiquei com os olhos fechados por um tempo que me pareceram Ontares, apenas ouvindo ruídos lentos, e por vezes gritos de dor, até que Brunna puxou-me pelo cabelo.

— O que foi, bebê? — ela perguntou enquanto bebia de uma garrafa com um líquido que parecia ser cerveja com limão. Ela sorria, o olhar vidrado na direção do mar. — Tem medo de meretrizes? Elas são escravas. Olhe bem para elas, pois eles vão querer que você faça o mesmo.

Brunna ria, seus dentes de ouro brilhando sob as nuvens escuras que cobriam o céu. Os gritos mais fortes e repetitivos. Foi então que percebi que três dos homens estavam brigando.

Não pareciam brincar. Enquanto esses homens lutavam, alguns outros carregavam suas mulheres para dentro das barracas, enquanto estas estremeciam, talvez de medo, ou ódio. Escravas não gostavam do que eram.

Um homem derrubou o outro brutalmente, e pegou sua adaga; ele o cortou na cabeça inúmeras vezes, até que fosse possível observar o cérebro do homem. Percebi que estava tremendo também, sentindo-me cada vez menor. Aquilo estava destruindo minhas crenças e alegrias. Era algo oprimido, algo terrível.

Eles eram de Zast; e Zast morrera.

Brunna levantou-se, repentinamente séria para uma reles bêbada.

— Já acabei minha parte por aqui, então estou indo embora.

— Nada disso — disse o homem que havia acabado de abrir a cabeça do outro, enquanto abraçava o terceiro lutador. Deviam ter feito as pazes. — Nosso trato acabou, mas não nossa amizade. Vamos adorar ter você aqui conosco.

Brunna arregalou os olhos, olhando as escravas sexuais deles. Logo se recompôs, ainda um pouco tonta por conta da bebida.

— Você vai ter que me obrigar primeiro.

Ele pegou sua adaga, a arma dourada, e, mesmo tonta, correu em direção a floresta, usando a arma para subir mais rápido pela íngreme subida. Os homens tentaram segui-la, mas a moça dos dentes de ouro havia sido muito bem treinada para fugas, pois, em vultares, ela era só uma lembrança.

Brunna havia escapado, e aquela era minha chance. Saí de meu esconderijo na cratera rapidamente, e me preparava para subir as escadas (do lado oposto por onde Brunna se fora) quando uma puxada brusca em meu cabelo fez-me recuar violentamente. Vi Axel, seus cabelos ruivos bagunçados, seu olhar penetrante. A chuva voltara a cair, pela quarta vez em dois dias.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora