Capítulo 33 - Quase um Fracasso

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Szanghi



 Eu sou um fracasso.

Quando meu pai faleceu, quarenta anos antes, ele me contou como seria minha vida a partir do momento em que ele fechasse os olhos. Ele era o grande Swerin, rei dos anões, que antes eram os donos de Rond. Quando o rei Arkandus tomou o reino dos anões, no fim da Era Maldita, eles se espalharam pelas outras terras mais para o norte, até que foram expulsos ou condenados à morte. Desde então, estávamos nas florestas. Ele me disse, na época, que os anões ainda o consideravam seu mestre, e disse que seria o sucessor, o mestre dos anões. Tinha 83 anos quando ele morreu, e quando conheci o Devor.

Meu sonho era ser um simples pescador; claro que sabendo tecer, tricotar e construir como o resto dos anões, mas gostava do mar. Era tão bonito, tão cheio de vida... claro que era um sonho impossível, já que vinha de família nobre, mas ainda dava esperança àquela louca ideia.

Mas tive que renunciar minhas paixões, e me tornar leitor. A leitura é a melhor instrutora, era o que sempre me diziam, e era o que sempre ouvia. A leitura me proporcionou uma visão panorâmica do mundo e de sua injustiça, e adquiri mais entendimento do que jamais imaginei. Me tornei grande no que nasci para fazer, e sempre consegui conter meu povo, e manter meu respeito.

Ainda mais com Zelish Devor, meu amigo. Era da Brigada, um jovem anão de 7 anos, sendo obrigado ao trabalho árduo. Ele sempre fora um anão forte e determinado, e com certeza era mais forte que eu jamais seria. Mas o anão reconhecera meu cargo, e sempre fora leal a mim. Tinha 47 anos naqueles dias, nem metade de minha idade, mas era um homem que sabia o que queria.

E queria honra, a que seus pais nunca lhe deram.

Com certeza teria salvo Cridor dos Caçadores. Mas não, eu que estava protegendo o homem.

Cridor era novo na Brigada, tinha 30 anos, e era filho de um cantor. Em nosso idioma, Cridor é uma abreviação para Cri-istta anedort, que significa Cria do Canto. O jovem foi empurrado pelos Caçadores na batalha sobre a montanha, e caiu trezentos metros de cabeça. Fracassei.

Lankher estava no fim da enorme montanha, e parecia arrasado. Não o satirizo; quando tinha 16 anos eu não imaginava as coisas pelas quais Lankher passava naqueles dias. Estava muito ocupado aprendendo os melhores tipos de isca para cada espécie de peixe.

— Ele estourou como um balão — Lankher comentou, com os olhos arregalados.

— Que bela comparação — retorquiu Balshin, muito menos animado que antes estava.

— Você não disse que havia chamado mais anões para a batalha. Como fez isso tão rapidamente?

— Nós temos um tipo de assobio que nós, os anões, somos ensinados a entender desde pequenos. Quando faço esse som...

Assoviei. O assovio era melódico e agudo, muito contrário à minha voz. Meus companheiros anões levantaram as cabeças, quase que se preparando para lutar.

— Os anões logo vêm. Cridor e Farraster não estavam longe. Logo mais deles chegarão, inevitavelmente.

— Eles reconhecem que é você? — Lankher perguntou, enquanto acariciava distraidamente um dos Filhos da Dor, que fingia não notar.

— Sim.

— Inicialmente achei que fosse Zelish — disse Farraster, deprimido. Seus cabelos tingidos de verde-esmeralda pareciam verde-musgo após a viagem e a chuva, que agora era apenas fina garoa a incomodar os ouvidos —, mas o som que Szanghi faz é inconfundivel.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora