Capítulo 13 - Desafio do Templo

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Travis

 Quando abri os olhos, a noite engoliu a luz.

Chovia por toda a volta, mas uma árvore protegia-me da água. Anne chorava enquanto abraçava Lankher, sem se importar com a chuva. Assim que vi o Mar de Port, notei que estávamos há uns cem metros da casa de Anne, mais para norte. O que havia acontecido, não sabia.

Levantei-me, sentindo imediatamente as luvas em minhas mãos, como havia pedido. Todas as minhas treze adagas e a espada estavam lá. Lankher me viu. Disse algo a Anne, que o soltou, e veio ao meu encontro.

— O que aconteceu? — perguntei, incerto.

— Você desmaiou, então trouxemos você para fora. Tivemos de correr, porque o pai de Anne tentou nos espancar.

— Por que Anne está chorando?

— Ela brigou com o pai, aquele insuportável. Ela pegou Três Tiros e saímos correndo de lá.

Anne caminhou até nós, os olhos inchados de uma recente choradeira.

— Vejo que Travis já está de pé — observou. — Vamos andando, nesse caso; o tempo não tem aliados.

— Sabe onde a Glout 1 fica? — perguntei.

— Não, na verdade — Lankher respondeu —, mas o livro dela dá algumas dicas básicas.

Afirmei. O nervosismo aflorou quando me dei conta de que ainda estava no meio de uma crise de minha maldição, e que precisava de uma vida. Lankher me observou, e, apenas por sua expressão, deixou claro que me compreendia.

— Anne, vamos andando na frente. — Ele a guiou gentilmente na direção da Ponte Optitrus, rumo pouco agradável. — Travis precisa resolver algumas coisas.

Assim que ambos se retiraram, caminhei na direção dos vários mendigos de Ozit. Testei o coração enquanto via os negros olhos do senhor de idade observarem-me da cabeça aos pés, notarem as sombras dançantes ao meu redor, tremerem de medo quando o contato visual se expressou por si só...

Matar pessoas com um toque... eu seria uma lenda se pudesse fazer isso sempre que quisesse. Invencível.

Fiquei ao lado de Anne na caminhada. A chuva havia cessado, mas indicava apenas um intervalo. Andávamos de forma calma e despreocupada, como pessoas normais fariam para irem se embebedar com os amigos pelas tabernas afora. Decidi puxar assunto com a moça, porque com certeza ficaríamos um bom tempo juntos.

— Esse arco parece muito bom — comentei.

Ele era gracioso em seu comprimento, e tinha uma coloração anil desbotada. Havia vários desenhos nele, como de flores e outras coisas douradas, mas ele parecia bem usado, como as coisas de Ozit eram em geral.

— O nome dele é Três Tiros. Eu o uso desde que tinha dez anos.

— É impressionante — disse-lhe. — Também tenho uma arma que amo.

Desembainhei minha espada dourada, retirando-a da bela bainha brilhante que lhe combinava. Lankher observou-a, talvez pelo se brilho; minha bela espada retirava minha concentração, e pelo visto estava fazendo o mesmo com Anne.

— Você é rico?

Será que a espada é assim tão extravagante?

— Sou — respondi. sem rodeios. — Minha avó morreu num confronto entre Drome e Ozit, chamado por vocês de Tomada, e me tornei o dono da casa e da fortuna dela.

— Mas e seus pais?

— Sou órfão. — A resposta estava lá sem que eu a procurasse. — Minha mãe morreu durante o parto, e meu pai morreu antes de eu nascer.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora