1 - Terra de Sombras - A Revolta de Ozit

Capítulo 24 - Desafio do Labirinto: Parte 1

Lankher

Então ouvi: um rugido suave e igualmente explosivo dentro de minha mente, uma sucessão de caos resumida em sussurros. Percebi, enquanto espantava o sombrio som da mente, que, sempre que ouvia tal brado por meus ouvidos, coisas ruins aconteciam.

A penúltima vez em que ouvira tal som fora quando estava deitado em minha cama de Render, uma criança boba e irrelevante que de nada desconfiava; lembrava-me bem daquela noite, pois fora ela a que antecedera a morte de minha mãe. E quando sobre o mar com Anne, há pouco dali, ouvi o mesmo som, o que provavelmente alertava-me de que sofreria mais um machucado, entraria sozinho na Glout 3, e pior: que minha amiga seria sequestrada por mercenários, para ser vendida como lhes aprouvesse.

Esse som me indicava os erros cometidos.

Quando vi o símbolo cobrindo o dourado do portão, o reconheci instantaneamente: Aquele era o símbolo da Glout, o elmo com o número três dentro, pouco acima de onde estaria a viseira. A insígnia era ostentada também no Lendas de um Curioso, o livro de Anne para crianças, e em todos os livros que lera na biblioteca sobre o assunto.

Brunna me lembrara que fora Mellow quem roubara o trono e a pretensão dos Rievo, não Rick e seu pai. Mesmo sendo desta forma, porém, ainda havia um motivo pelo qual lutar e aniquilar a Dinastia R: vingança. Muitas coisas viriam quando conseguisse, o reino e as preocupações, mas o objetivo era apenas vingança, como sempre fora e sempre seria.

Esta nunca fora um motivo para tudo o que fazia; era uma inspiração.

Mas ali de nada ajudar-me-ia; um aperto no peito domou-me quando abri o portão, que revelou que só se poderia abrir pelo lado de fora, e vi que estava preso de frente para quatro entradas de pedra, todas a céu aberto, com vários caminhos interligados entre os quatro, num ziguezague sinuoso e hipnótico. Observei, e praguejei quando associei aquilo a um grande labirinto.

Não acredito que Brunna fez isso comigo...

Nunca cogitei que a Dona dos Campos pudesse odiar-me por causa de dois malditos dentes. Ela estava treinando, aprendia a se defender como todos, precisava conhecer seus riscos, mas a garota mimada jamais aceitaria uma coisa que não fossem Bisteris e presentes luxuosos. Segundo se dizia, ela matou os pais, assim como mataria facilmente dois jovens que quisessem concluir uma promessa, tudo com base em sua "entrega total" aos Mundiais e seu poder incomplacente. Quando seria a vida justa, e olharia também para os injustiçados?

Nunca, vendo-se que não tinha ajuda e que perdia meus amigos e minha missão.

Porém devia tentar até o fim, ou teria minha história negada quando lembrada. Olhei para frente, impassível diante das quatro entradas que me aguardavam, quase rindo de minha confusão e derrota. Eram todas feitas de ardósia e mármore polido, lisas e brilhantes, e o chão era recôndito por uma neblina espessa e pouco permeável, que fazia a grama rasa por baixo parecer apenas tinta verde esparramada.

Um Comunicador observava-me dos pés. Quando abri a caixa especial, uma voz pastosa começou as instruções:

- Lankher Rievo - a voz sussurrou, enfática -, Sexta Linhagem. Vejo que nosso padroeiro mantém certo afeto por você, aguardo uma pessoa por aqui há tantas décadas... o caminho escorreito é o terceiro, da direita para a esquerda. Conto com você para que possamos nos conhecer.

Uma bola vermelha ergueu-se no céu, numa direção que percebi ser o do terceiro caminho, o da direita para a esquerda. A bola era geometricamente perfeita, transparente e estando vazia por dentro, mas mesmo assim aparentava uma ameaça, como um mercenário que segue seu alvo até onde o sol se põe. Respirei fundo, assustado, mas incrivelmente inconsequente.