Capítulo 28 - O Mestre das Aberrações

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Travis


 Anne avançou em meu encalço, abraçando-me assim que me alcançou. Seu corpo estava gelado, e dessa vez nem sua camiseta de malha ela usava.

— Travis, Travis, Travis! — gritou, enchendo-me de beijos a cada vez que pronunciava meu nome. — Não acredito, você me achou! — Seus olhos tornaram-se vagamente vesgos, uma centelha de ressentimento surgindo entre eles, mas ela voltou a me apertar, num silêncio de desabafo.

Distraído, percebi que havia matado 13 homens lá embaixo, assustando-me com a quantidade. Acertara todos os ataques.

— O que fizeram com você? — Segurei-a pelos ombros, e pude ver que seus olhos estavam marejados.

— Não aconteceu nada — respondeu, sem olhar em meus olhos. Levei-a com leveza para dentro da enorme floresta que se seguia, o caminho pelo qual vim. Tinha plena consciência da reação dos raios quando próximos às árvores, mas estávamos no extremo do Continente, e aquele era o único caminho.

— Por que está sem camisa?

Seu rosto enrubesceu, mesmo debaixo da chuva, às 14 Instares. Havia passado o dia anterior inteiro caminhando, sendo indicado pelo próprio acaso à direção de Anne. Talvez o acaso tivesse tido uma pequena manipulação especial, mas disso eu não tinha nenhuma certeza.

Ela ignorou a pergunta, se abraçando para se proteger do intenso frio que rodeava Sugat. Percebi que seu rosto continha hematomas roxos no nariz e no supercílio esquerdo, ambos muito grandes.

— Pode me dizer quem a agrediu, ao menos?

— Brunna Rylie, a Dona dos Campos.

— Não faço ideia de quem seja.

— Minha raptora. Por favor, Travis, não quero mais falar sobre isso

Um talho fundo em meu peito ardia sob os pingos rudes de chuva, mesmo que não fizesse ideia de quem havia sido seu causador (mas lembrava que havia sido no meio da missão). Mesmo assim, pouco me interessaria: talvez tivesse perdido, e isso não gostaria de descobrir.

Um raio explodiu novamente dentro da floresta, matando-nos de susto. Rapidamente, inclinei um tronco, de modo que coubesse dentro de dois outros olmos enormes, e voltei para buscar alguns dos toldos dos homens que matei, aproveitando para pegar minhas adagas e cravá-las nos olmos.

O resultado fora um abrigo péssimo, coberto de irregularidades e frestas. Que servia.

Anne entrou sem que precisasse pedir. Estava com frio, pois tremia com sua lã molhada. Entrei logo após ela, depois de encontrar algumas maçãs muito bonitas e vermelhas de policarpos retorcidos. Anne arregalou os olhos para as maçãs.

— Onde você pegou isso?

— Nos policarpos, ali de fora. Tem umas maças tão bonitas...

— São as maçãs de Volt! — gritou. De onde tirara aquilo? Volt estava a cerca de duzentas milhas dali, contando que estávamos no extremo Leste, na parte Territorial de Aimo, talvez Flabo.

— Como assim?

Ela se limitou a pegar uma maçã e morder, suspirando como se fosse um manjar real.

— Deixe para lá; só coma.

Mordi a maçã: era como morder algodão adocicado. Ela derretia na boca com uma leveza extraordinária, e continha um sumo tão suculento que o gosto não se tornava repetitivo. Suspirei, me levantando para colher mais, quando ouvi a mordida de Anne.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora