Capítulo 36 - O Erro

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Anne




 Travis estava me devendo uma.

Carreguei o garoto da prisão de Ozit até o lado de fora do castelo. Sem mim ele estaria morto, obviamente. Mas, como antes havia me salvado com o lance da adaga, acho que estávamos quites.

Sidder havia me derrotado com facilidade, contando que em curtas distâncias flechas surtem pouco efeito, e não podia disputar em força com ele. Me jogou para um canto, fechando a porta da prisão com uma das chaves do carcereiro.

— Adeus! — gritou, desaparecendo para sempre. Fiquei sozinha com um Travis desmaiado. Apesar de tudo, a boa notícia foi que Sidder não pensara em bloquear as janelas, então pudemos sair por lá "facilmente", digamos assim.

Mas Travis era ruim para passar. Não sabia se começava pelas pernas ou pela cabeça, e eu mal conseguia levanta-lo, contando que a janela estava acima de mim, que sempre fui baixinha. Após uma instare suando para fazer Travis sair de lá, consegui empurra-lo para fora. Deixei-o na parte de trás do castelo, próximo aos vários rios que antecediam os montes, pois sabia que ali acordaria sem infortúnios.

Minha mãe pairava em minha mente desde o dia em que fugira. Não a via por cerca de quatro dias, e a saudade batia. Mesmo que não fosse muito minha amiga, que me ignorasse, e que sempre me insultasse pelas costas, ela ainda era minha mãe, que me criara e me dera uma infância formidável.

Então, estava andando em direção à Bamis, o local que fazia parte de toda a minha vida. Já não me lembrava de minha vida em Ceroza (claro que com exceção de Frederick, o Anjinho), mas Bamis parecia ser o início de tudo. E por que não? Foi lá que conheci o garoto que me mudou, Lankher Rievo.

Que agora poderia estar morto.

Não pensei em vê-lo; também não pensei em encontrar Szanghi, mas encontrei-o. Seu albornoz escuro estava ensopado de sangue, mas ele não parecia ferido. Entretanto seu olhar era de total aflição.

— Winslet, está bem! — o pequeno me abraçou, e achei engraçado o fato de ele bater em minha barriga, bem na cicatriz. — Onde estão os outros, jovem guerreira?

— Travis está desmaiado como sempre, mas bem. E Lankher... está dentro do castelo, por tanto tempo que algo já deve ter acontecido.

— Não pense o pior — Szanghi deu tapinhas na base de minha coluna, onde ele alcançava. — Você ouviu o grito do povo e o repicar dos sinos, houve uma troca de reis. Eles gritam assim quando outra pessoa possui o Tronet. Foi isso o que aconteceu em Rond...

Ele parou, e rapidamente mudei o rumo da conversa. Sabia que os anões haviam perdido seu Tronet de Rond na Era Maldita...

— Onde estão os outros? Zelish e o outro velho...

Szanghi enxugou lágrimas com a espessa barra de sua vestimenta de couro. Parecia mesmo acabado.

— A Fênix nos salvou várias vezes. Sem ela, estaria morto. Sem ela, Aimo teria invadido o castelo. Mas, em um momento, ela mudou o curso, e voou até o castelo. Nesse meio tempo, nós ficamos sozinhos contra o impiedoso exército aimico, e... Balshin...

Me ajoelhei, e abracei o anão. Sabia que ele era muito mais velho que eu, muito mais influente, e muito mais experiente, mas todos precisamos de amigos às vezes. E Szanghi precisava de apoio. E eu seria seu apoio (mesmo precisando me agachar para isso).

— Tudo bem, Szanghi. Não se culpe. Você é genial.

Ele chorava em meu ombro, e suas lágrimas eram mais quentes que o suor que colava em minha pele.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora