Epílogo

48 12 2
                                    


Seis Meses Depois




 Solidão é o melhor remédio.

O Sul do Continente Oeste era o melhor local para se viver, preferivelmente sozinho. E realmente nunca gostara de companhia. Afinal, sempre estar sozinho clareava as ideias; e ninguém atrapalhava meus planos pondo suas próprias opiniões.

Ah, mas as coisas ficaram bem. Principalmente em Ozit: Ozit se recompôs de todos os problemas da Dinastia R, fez as pazes com os reinos, mudou a economia que não subia havia anos, e deu toda Senditender aos anões, o povo derrotado. Sim, Lankher já começava a mudar tudo para o bem, e já era amado por seu povo.

Infelizmente, aquilo iria acabar. Com certeza. Só precisava pôr um pano no chão, para que o sangue não se impregnasse quando começasse a cair.

Algumas pessoas foram boas comigo, e adiantaram meu trabalho em vários meses. Duraria mais um ano para fazer todos os preparativos para a batalha que se iniciaria, mas um dos lados me deu uma colher de chá. Mais seis meses, e poria o plano em prática. O plano mais complexo que teria naquela era, a Misteriosa.

Mas até lá, iria descansar. E também conversar. Era assim que adquiria mais aliados, ou, no meu caso, peões.

Entraram em minha caverna. Na entrada eu podia ver apenas um vulto, mas como conhecia vultos muito bem, conseguia localizar curvas e volumes que apenas as mulheres mais belas possuíam. E mulheres só sabiam me decepcionar ultimamente.

A moça em minha frente tinha os cabelos dourados, um pouco mais fortes que o de Anne Winslet, que beiravam o branco. Tinha lábios volumosos e rosados, e olhos de um azul incrível, quase botânico. Usava um grosso casaco de flanela branco, e era tão formosa que por um instante não consegui conhecer.

Mas a reconheci mesmo assim; a bela Sobel Bastarda. E ela estava sem sua conexão, que a protegia de mim, e das trevas em geral. Como era ingênua.

— Você é tão bela que quase sinto vontade de convidá-la para um bom jantar. Quase.

— Como você é galante, Senhor das Trevas — Sobel corou. Aparentava não ter medo de mim, outra prova de sua tolice. Riu educadamente, e levantou a cabeça. — Mas temo que não possa me envolver mais que o necessário com seus poderes... ouvi dizer que as sombras são um pouco poderosas demais...

— Perdoe-me. Elas nunca estiveram sob meu controle. Mas diga-me: o que traz sua doce presença até mim, num momento tão inesperado?

— Estou atrapalhando algo?

— Não, com certeza não — sorri maliciosamente. — Diga-me o que quer.

— Sei que você anda um pouco ligado à Trinnit — ela disse —, e lhe digo que não escolha o lado errado na guerra que iniciará. Peço que veja os dois lados com atenção, e que escolha o que mais lhe agradar.

— Com certeza, será isso o que farei. Mas por que deveria estar do seu lado quando o auge dos problemas chegarem?

— Bem, posso ser uma boa mulher para você...

— Ah, entendi — minha risada foi forte o suficiente para acordar os Homens das Sombras do subsolo. — Sabe, muitas pessoas já tentaram me comprar, mas não me lembro de nenhuma que ofereceu os encantos do próprio corpo. Gosto de seu rosto, bastarda, ele é agradável... mas você não vai convencer um velho desta forma. Já conheci mais mulheres na vida que o número atual de mulheres vivas.

— E os homens? — sorriu, mas sua verdadeira expressão era desdém. Algo um pouco ousado demais para meu gosto. — Fale sobre Selia XVI, seu maior aliado da Era Maldita. O que ele ofereceu?

Sombras subiram do chão, e prenderam nos pés da moça, que gritou, de repente sem sorrisos e confiança.

— Você se esqueceu de quem sou? Se esqueceu onde está? Você vem até minha presença, e zomba de mim?!

Todas as suas forças pareceram deixa-la. Afinal, a ficha caiu para ela.

— Não, me perdoe, me perdoe, eu só queria... usei as palavras erradas, senhor...

— Eu sei o que você queria! Você queria minha ajuda contra Trinnit... mas, diferente do seu Misterioso dourado de araque, eu sei escolher um lado.

Andei até Sobel, que era ainda mais bonita de perto. Uma moça bela assim deveria se contentar com um título de melhor meretriz da cidade, para que um reino se é bastarda? Não havia chegado àquele ponto.

— Sorte a sua que quero muito viver este jogo, ou você se tornaria poeira do chão.

Mexi a mão, e as sombras sob Sobel apertaram seus tornozelos. Ela gritou enquanto caía, e as sombras a abraçavam e aconchegavam-se a ela como um cobertor.

— Você ouviu dizer que as sombras eram poderosas, certo? Agora, você poderá tirar suas próprias conclusões.

Envolvi-me no canto da caverna, enquanto ouvia a linda moça loira berrar, conhecendo o poder das Trevas.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora