Capítulo 17 - Encruzilhada

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Travis



 Não havia sinônimo de "tratamento digno" para um homem em cárcere.

O local era hediondo, onde predominava um cheiro terrível, agridoce, daqueles que permanecem em seu nariz mesmo após se distanciar. Várias celas estavam alinhadas em formato de cones, com apenas um guichê gradeado na parte superior. Todo o local era ladrilhado de pedras exatamente iguais.

Prisioneiros riam de mim, murmurando frases como: "O pequeno Lankher não conseguiu completar sua missão!". Talvez Lankher já fosse famoso por todos os locais, por ter pegado a Glout 1, e até os guardas das prisões já comentavam sobre os fatos.

Observei pelo guichê o homem que me trouxera sair, me deixando com uma única visão espalhafatosa do carcereiro: um homem atarracado, tomando vários goles de algo enquanto observava tudo ao seu redor, como um hiperativo. Baldes de excrementos pairavam nos cantos, jogados, e musgo crescia nas paredes.

Não liguei para ele. Não liguei para nada. Minha única esperança era de que Sortbell também me reconhecesse como seu escolhido e desse um jeito de me salvar, como fez com Anne. Contudo, não tinha esperança de que Anne e Lankher voltassem. Eles já tinham seus próprios problemas.

Mesmo assim, achava ter sido bem útil enquanto estava com eles.

Lembrei-me do que Asterna disse, sobre eu ter a aura de seu pai. Asterna também tinha sua aura, e auras costumavam ficar impregnadas em... parentes dele.

Não; eu não poderia ser parente do Mestre das Trevas.

Isso era impossível. Minha mãe não gostava de magia, muito menos da proibida. Todos diziam que: Melanie Meaner era um anjo, mas um anjo sem poderes. Lembrei-me também da visita do Senhor das Trevas em forma de idosa até minha casa. Ele disse que eu era um deles. Isso só poderia significar um dos Onze. Ele queria acabar comigo pessoalmente, talvez por eu ter sua aura me envolvendo.

Não podia ser filho dele. Era impossível.

Enquanto ruminava esses pensamentos, ouvi a porta se abrindo, e vi o homem gordo conversar com outro homem, com a voz mais formal e precisa, com um sotaque suave. Com certeza um homem do castelo de Ozit.

Não fazia ideia de como ele havia chegado tão rápido, mas com certeza isso não era um bom sinal.

Espiei pela portinhola, mas sem necessidade, pois minha cela se abriu rapidamente e contemplei a visão de um homem com vestes vermelhas e prateadas, um sorriso amarelo, com olhos injetados de sangue e cansados, e barba por fazer.

— Olá, Lankher. Faz muito tempo que não o vejo; como está diferente.

Se aquele homem fosse um amigo de Lankher, talvez eu tivesse uma chance. Se não, haveria dezenas de guardas lá embaixo.

O homem se virou para o gordo com as chaves, que piscava a todo instante.

— Obrigado, senhor — sorriu, mas não pareceu mais amigável. — Vou andando, estou muito cansado ultimamente. Vamos, Lankher.

Ele me retirou da cela, com todos os prisioneiros em silêncio absoluto, e começamos a descer as escadas. Logo conseguia sentir o ar quente de Ceroza, e passei a me sentir alegre só por estar livre, mesmo que o cheiro do cárcere me perseguisse.

— Ouça-me, Lankher. Rick está usando o juramento dos reis para ter seu apoio contra você. Agora, Ozit, Ceroza e Drome estão na sua cola.

Não esperaria menos.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora