Capítulo 20 - Dama dos Lobos

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Sidder


 O soberano Rick tinha nada mais que 33 anos. Catorze concubinas, seis prometidas a matrimônio e infinitas chances de herdeiros.

Mas ele nunca foi dos inteligentes.

Suas promessas de casamento foram anuladas assim que a rincha com Mellow começara, quando se iniciaram os roubos de alimentos e tecidos, e etc. Rick perdera suas concubinas para a traição, assim como os copeiros, que tentaram envenenar seu vinho do Continente Sul, seus escudeiros, que tentaram invadir a sala do trono numa festa nupcial, e um de seus conselheiros, o que vos fala neste momento.

Logo Rick andava totalmente desfalcado: Seus cavalos foram vendidos para Drome e Werr, cidade do Continente Norte. Muitos de seus escudeiros e cavaleiros haviam escapado do castelo pelas saídas de emergências, ou se suicidado, na falta de oportunidades de fuga. O castelo andava vazio, sem visitas, e sem expectativas. Até os nobres se acanhavam juntamente com o restante.

As doze famílias principais da nobreza pareciam ter lealdade maleável: os grupos em Senditender haviam mudado de lado, para a fronteira do Mar dos Caseiros, como também Bive e Volt haviam renunciado ao cargo de auxiliares do reino para serem estandartes do poder bélico de Aimo. O próprio reino se rebelava contra seu rei. Era apenas o início da Revolta de Ozit, nome que com certeza seria título de muitos livros no futuro.

Então percebi que não precisava de uma chave, nem de uma garantia, nem de um trunfo, nem de uma conexão: Rick era burro demais para manter seu próprio reinado.

Comprei algumas vestes simples de pano curto para passar despercebido pela cidade de Render, o Hospício do Mundo. Suas barreiras agora serviam de limites para o enorme manicômio de 10 milhas quadradas que se prolongava por ali. A população sobrevivente de Render havia virado duas coisas que sempre abominei: Loucos e canibais. Rick não perdia por esperar.

Andei até os portões centrais do castelo de Ozit, mas me deparei com muitos homens e até mulheres do povo berrando, como numa manifestação:

— Rei, queremos uma resposta! — berrava um deles, tentando vencer o alvoroço de seus companheiros.

Entrei rapidamente pelos portões laterais para não chamar atenção. Era uma questão de tempo até que ambos estivessem bloqueados, e estaria em cárcere. Deveria declarar logo meu lado.

Meu lado.

Assim que cheguei ao segundo andar do castelo, encontrei Rick e seu fiel escudeiro, ambos encarando-me com seriedade.

— Diga-me, sem pestanejar: Onde você esteve?

— Sem pestanejar... — brinquei, na verdade buscando tempo para pensar numa resposta — ...fui colher maçãs nos territórios de Volt, pois, bem sabe Vossa Majestade que as maçãs de lá são esplêndidas em policarpos. Basta uma mordida...

— ... para se conhecer o prazer — o escudeiro completou, parando imediatamente após ver a expressão de Rick. — Perdoe-me, senhor.

— Tudo bem, Dalfor — ele se virou para mim. — Mostre-me as maçãs, Sidder.

Pus a mão no bolso, e lá estavam elas: simples maçãs do jardim a um quilômetro de Bamis, na Baía Ocidental. Mas tinham a mesma aparência das possantes de Volt. Mostrei-as para Rick, e este não mudou a expressão, mas pareceu mais suave.

— Certo. Já sabe que Lankher foi capturado pelo velho Anieles? — ele riu, como se não fosse batalhar até a morte em dois dias.

— Não, não sabia. Quem há de busca-lo?

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora