Capítulo 25 - A Bruxa de Gelo

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Rei Rick


 O Porco não voltou da prisão de Ceroza. Ele foi abatido e espancado até a morte pelos cidadãos revoltados em frente ao meu castelo. Mandei alguns cavaleiros leais para abate-los, mas eram muitas pessoas. Seis de meus homens foram mortos, e o povo não se retirou. O castelo se tornara meu calabouço.

E estava à espera de meu carrasco.

Mais traições rodeavam o local, e logo eu estava cercado de traidores. Sentia-me cada vez mais sozinho, restando apenas alguns mensageiros e conselheiros. Logo estaria quebrando a promessa que fizera ao meu pai.

— Diga-me, filho — implorou ele, deitado em seu leito, apenas esperando a velhice vencê-lo. — Diga-me que honrará todos os meus sacrifícios pelo povo.

Ele se referia às suas dores que resolvera ter por Ozit, o povo ingrato: Ele deixara sua esposa presa numa caverna subterrânea para escondê-la dos Sensatos da Era Misteriosa, e o povo de Aimo não permitiu que regressasse ao seu encontro, sem que ele fosse até lá. Ele podia largar o povo, deixar seu trono sem Tronets para o ladrão mais próximo; mas não, ele ficou com seu povo, temendo a derrota. Minha mãe, Samara, morrera asfixiada após duas semanas sob as pedras duras de sua prisão.

Sempre fui criado com minha mãe, e ao reconhecer que ela partira por causa de meu pai, Reind, pensei em mata-lo. Mas a velhice o abateu primeiro. Ele me deixou seu reino, estabilizado e perfeito, apenas abaixo de Aimo, que, após a morte de Ray, havia subido em sua economia como as ondas na primavera. Afinal, pus a culpa em Aimo, e planejei um barulhento ataque contra Mellow, visando vingar minha mãe.

Treze mil cavaleiros e cinco mil arqueiros foi o número que achei próprio para combater Aimo em Shunt, a cidade-fronteira com Rashat, vinte anos antes. Ozit venceu a guerra, e desde então Mellow roubava os alimentos de meu reino, e logo resolveríamos as contas, em pouco tempo. Podia ouvir os gritos de guerra há vários quillômetros de distância, e logo eles estariam a metros de mim.

— Sim, pai, eu os honrarei — transigi, de frente para os nobres das terras, senhores dos reinos, que logo aprenderiam a me odiar, como todos. — Darei continuidade ao seu reinado de paz.

Todos aplaudiram. Senti vontade de chorar naquele dia em que o Tronet vermelho colara em minha nuca, como se decretasse que aquele corpo era exclusivamente seu. Sim, seria o sucessor de meu pai, um homem tão bom e justo quanto ele, talvez até melhor que ele já foi. Mas pelo jeito que as coisas iam, eu errei em tudo.

Meu maior erro foi o de trocar minha quinta, a última quinta-feira que teria na presença de meu pai, por uma tarde com Quiara, uma doce princesa, filha de Mellow. Meu pai jazia mais doente que nunca, e estava pensando que ainda haveria tempo para ser bom. Mas a minha raiva pela morte de Samara ainda caía sobre ele, então eu guardava o rancor.

— Filho... — ele balbuciava, mal controlando sua própria saliva na boca, tremendo como um escravo de Drome. — Passe esta tarde comigo. Faça sua presença para seu velho pai.

Eu sorri, nem imaginando quanto veneno expelia, como o pior filho único que já pisou em Ozit.

— Pai, fui convidado por Quiara para uma festa no palácio de Aimo. Amanhã estarei com o senhor.

Ele apenas afirmou, tentando formar um sorriso em sua boca rachada.

— Tudo bem, filho — ele acenou com a mão. — Divirta-se.

Ao fechar aquela porta, minha vida desmoronou.

Foi ali, sentado em meu trono, que percebi que Sidder era meu principal traidor, o grande farsante de toda a minha emboscada real. Ele era o pior deles, pois estava sempre ao meu lado, conhecendo minhas fraquezas, sabendo onde era vulnerável, e reforçando todas as minhas partes sensíveis, como o bom conselheiro que meu pai insistiu em manter no reino.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora