Capítulo 11 - A Dança das Concubinas

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Sidder




 O plano não poderia dar errado; havia uma adaga atrás de mim.

A mulher não parecia estar brincando. O silêncio tomava conta do local, pairando por todos como um auxiliar desnecessário, causticando a emoção a cada momento. Olhei para meu rei, impassível como devia estar, e suas mãos formavam círculos viciosos, quase como uma ordem.

Ataque.

Olhei para o teto do castelo, que era totalmente banhado em vermelho. Bonito, mesmo com seus exagerados tons de profundidade. Não era tão brilhante quanto o de Ceroza, mas era brilhante.

Afinal, era meu sonho.

Nunca aceitei o fato de Rick ter ficado com o trono. Muito menos Reind, seu pai. Os dois eram reis deploráveis, donos de uma dinastia miserável. Esperava uma atitude racional de Reind, sendo arrazoado, mas não. O filho do rei tinha que reinar, mesmo sendo mais fraco, menos capacitado e completamente indolente.

Mas tudo estava planejado: Rick nunca mais veria seu trono. Graças à minha iniciativa, minha conversa com uns magos escondidos nas Terras Mortas, eu tinha uma solução para meu maldito problema. Havia feito uma conexão.

Conexão era um poder incorporado a um certo acessório, do qual seu uso protegia o dono de uma especificidade. Minha chave tinha uma conexão contra os homens do castelo e Rick, por exemplo. Não era tão poderosa quanto as feitas por Since, mas era muito boa. Os magos com quem conversei conseguiram uma com o poder de Runok, mesmo que usurpado. Talvez Runok fosse bondoso, e deixasse o ultraje passar despercebido.

Essa conexão me protegeria supostamente de Rick e de Lankher, mas havia uma condição: precisaria tocá-la nos dois, o que seria uma tarefa relativamente difícil. Entretanto, com os vários anos que andava tendo e teria para pensar, tudo se tornaria simples.

Era só arquitetar situações.

Pensava nisso quando um dos lacaios de Rick bateu em minha porta sistematicamente. Estava muito concentrado para ser interrompido.

— O que quer?

Ninguém respondeu. Geralmente quando faziam isso era porque Rick queria minha presença, e não gostaria de esperar muito. Odiava aquilo, mas tinha de morar no castelo; era conselheiro dele, e a melhor forma de adquirir sua confiança era tê-lo por perto, dando-lhe conselhos que me beneficiassem.

Como no caso da Desertora.

Levantei-me de minha cama pequena, e saí de meus aposentos.

O castelo era mesmo bonito: tingido com várias cores, não apenas o vermelho, e todas as pessoas se vestiam com túnicas brancas e roupas de pele escuras, assemelhando-se com as de ursos. As mulheres tinham cabelos tingidos de vermelho vivo, o que era uma tradição de Ozit, e os homens andavam com cutelos de prata, em homenagem à Reind; era sua arma favorita, e a festa era em sua homenagem, o dia em que tornara-se rei.

Mas pouco importavam as homenagens quando se viam as concubinas. Eram todas formosas, dançando uma música totalmente nova para mim, com toques de liras e flautas que desconhecia. E a coreografia era ainda mais inusitada: as mulheres faziam vários passos providos de sentimentos, articulavam os braços como se tentassem voar, gritando:

— Tente de novo, Ozit!

E assim a festa sucedia.

Sabia que aquela festa estava acontecendo desde algumas Instares atrás, mas não queria aparecer; estava ocupado planejando. Mas é claro que Rick faria questão de mostrar-me sua falsa prosperidade. Enquanto todos morriam de fome lá fora, Rick se esbaldava de fartura e mulheres.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora