Capítulo 18 - Dor, Paz, Trevas

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Sortbell


 Evitar as Terras Mortas. Mandamento mais importante da Era Misteriosa.

Até antes da Era Maldita havia três reinos onde hoje são as Terras Mortas: Rond, Zast e Sortbell, uma homenagem a mim. Mas quando a Revolução dos Magos começou, os três reinos sucumbiram perante a guerra. Eles tiveram seus tronos quebrados, e os tronos sagrados não podem ser reconstruídos. Os povos perderam suas transações e "morreram". Agora, aquele lugar serve de lixão para o Oeste.

Nunca se sabia o que sua entranhas escondiam.

O poder me abençoara com o dom da camuflagem, então podia tomar a forma do ser que quisesse. A de pássaro caíra muito bem naquele dia. Viajava até a caverna de Ascom, e não passaria pelo solo de Zast, irregular e perigoso.

Eu, ele e Runok, três dos quatro Dirígelos vivos (os únicos que viviam no Oeste) nos uniríamos. Ascom dissera que precisávamos conversar, após termos salvado os pobres desafiantes. Já havia negado os outros seis, que morreram nas mãos de Asterna e Anieles, e agora esses três iriam morrer por estarem em número muito baixo.

Por que Runok estava tão lgado a esses três? Pena, não conseguia pensar em nada melhor vindo de um Negativo.

A caverna de Ascom não mudava: era sempre totalmente escura. Não havia nenhuma tocha acesa, e como eram 22 Instares, a caverna era um breu total. Não fosse minha visão reforçada, e minha aura dourada de Paz, eu seria engolido pela escuridão.

Runok já estava ali, e me cumprimentou.

— Como vão seus desafiantes?

Não havia ironia em sua voz. Runok, é você mesmo?

— Não são meus, meu trabalho acabou na Quinta Linhagem. Mas você os tem ajudado bastante, não?

— Bem... o colar de Ruoll nunca foi meu — ele sorriu. — Aposto que acredita no potencial deles, e quer que matem Rick antes de Mellow, para evitar mortes. Mas Lankher perdeu sua manilha, você bem sabe, e eles estão muito cansados apenas após Ceroza...

Ele riu, mas não achei muita graça no comentário.

— Vocês dois apareceram — o Senhor das Trevas marcou presença. Quase nunca via o rosto de Ascom. Ele se isolava do mundo, se comunicava apenas por visões e ilusões. No momento, estava num canto de sua caverna, envolto em escuridão. Não conseguia ver nada, quando concentrava-me muito, minha visão tornava-se um borrão sem foco.

— Após duzentos anos, irmão Ascom — Runok pigarreou.

— Não viemos do mesmo ventre — Ascom cortou. — Quero falar sobre o que aconteceu hoje de manhã.

— Qual parte, a que você quebrou a conexão de Lankher? — comentei.

— Aquilo era meu — ele se moveu, e por um vultare pude ver sua mão. Virou-se para Runok. — E eu esperava mais de você. De torturar as pessoas com os piores tipos de dores, você caiu para o Homem dos Maremotos?

— Não devo nada a você, não é? — Runok rebateu, desafiador. — Faço o que quiser.

— Por isso se tornou o Dirígelo IV.

— Por favor, concentrem-se! — eu disse, e milagrosamente, os dois Negativos me obedeceram. — O que quer nos dizer?

— Simples. Que vocês dois não podem mais interferir na missão dos três. Você, Runok, não tem nada a ver com essa história.

— Não pretendo mais ajuda-los — Runok anunciou. — Favores são dados apenas uma vez. Se quiserem mais, que falem comigo.

— Peça pactos, o poder nos abençoa a cada alma que acordamos algo. — Ele sorrira, ou não, não era bem visível. — Aqueles três têm ligações comigo. Pelo menos, suas famílias têm. Estão pisando em ovos, vou mostrar a verdade a eles. Principalmente a garota.

O Dirígelo I cerrara seus punhos ao mencionar a menina Winslet.

— E você, Sortbell, escolha um lado. Não dá mais para compactuar com Rick e Lankher ao mesmo tempo.

Então ele sabia. Um erro achar que Ascom não saberia de tudo. Para se provar maior que Since (essa era sua inspiração), ele precisava ser o mais informado de todos os continentes.

— Eu sei. Ainda estou tirando conclusões. — Fim do assunto.

— Portanto, quanto aos três... — Ascom voltou, menos agressivo que antes. — Peço que não interfiram em nada, pois eles são partes cruciais de meu futuro. — Como ele podia falar do futuro dessa forma? — Podem até feri-los, se quiserem; mas eles pertencem ao Dirígelo I.

Seus dentes reluzentes apareceram na escuridão. Tive vontade de me retirar. Runok deu dois passos para trás, e eu o segui. É, que, dentro dos domínios de Ascom, ele tinha uma força muito maior sobre nós, uma que ninguém gostaria de assistir.

— Então, acho que vamos embora, Ascom — disse eu, sem deixar o tremor vencer em minha voz.

Nos viramos, mas antes que pudéssemos nos retirar de vez daquele local oprimido, Ascom nos chamou.

— Ei, só gostaria de pedir que vocês... bem... — podia jurar que ele estava dizendo as palavras com carinho, pensando em cada expressão — gostaria que vocês poupassem o Meaner. Travis Meaner.

Olhei para ele.

— Alguma explicação para isso, meu amigo?

Acho que esse "meu amigo" caiu bem, pois Ascom pareceu ainda melhor que antes. Talvez até mais amigável, se as aparências não fossem tão enganadoras.

— Ele tem minha aura. Tem uma ligação comigo...

— Ele mata pessoas com o toque — observou Runok.

— Isso é um poder dos meus filhos da morte, os Homens das Sombras. Ele é... um deles?

O ar ficou mais pesado. Se nem Ascom sabia se havia algum Homem das Sombras andando por aí, quem poderia saber?

— Bem, ele é humano — eu disse, convicto —, conheci Melanie Meaner, sua mãe. Mas não me lembro do que aconteceu com ela...

— Ela morreu no parto — Runok engasgou. — Estamos deixando algo passar...

Ascom saiu de sua escuridão. Não consegui ver seu rosto, pelas sombras que o cobriam, mas pude ver seu corpo: não era surreal; Ascom ainda era humano. Sua capa preta era maior que a azul de Runok. Ele não parecia sorrir.

— Algo crucial.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora