Capítulo 35 - O Fim de um Herói

42 13 18
                                    

Lankher

Cheguei ao terceiro andar, mas Anne e Travis não estavam lá. Preferi não esperar por eles, até porque seria suicídio.

Devia toda a minha resistência, velocidade e força à armadura tão querida e conquistada com dificuldade. Sem ela, não teria feito quase nada (contando que as pernas estavam comigo desde o Templo Lamente, e elas que me deram velocidade para chegar lá a tempo).

Fui surpreendido por uma parede de pedras em minha frente, o que provavelmente fora feito para evitar que os homens de Aimo entrassem no quarto e último andar. Uns guardas do castelo chegaram até mim, e partiram para o ataque. Com minha nova experiência na casa daquela mulher, eu sabia que precisava usar golpes enquanto lutava, então percebi como aquilo era melhor para se combater.

Chutava os homens assim que possível, mas logo percebi que precisava treinar mais. Não era flexível, e os homens sempre conseguiam desviar de meus chutes sem esforços. Mas os socos ainda funcionavam bem, como sempre. Derrubei três deles, que ressonavam no chão.

Sem muitas opções, entrei numa sala que conhecia, na sala que participara de meus sonhos durante metade da vida: a sala de armas. Era tão quente que me engasguei com o ar abafado e a poeira que parecia estar em toda parte. Olhei em volta, as mesas de guerras bem sucedidas ou não, as poções e maças estranhas, tudo.

E, além do mais, um jovem.

Ele era tão magro, que me doía: tinha a pele escura, o cabelo cortado raso, como um eunuco, e estava enrolado numa toalha grossa de algodão, encharcada de sangue. Era visivelmente jovem, com uma pele sedosa e brilhante, mas parecia igualmente acabado.

- Ele está mesmo aqui - disse o doente. De sua boca, pequenos filetes de sangue escorriam lentamente em direção ao chão.

- Quem é você? - minha voz era um cicio. - Precisa de cuidados.

- Sou Rew Esfer - disse devagar -, mensageiro inútil, como dizem os fidalgos. Você me acha um inútil?

- Eu... eu... - não sabia o que dizer; não conhecia o mensageiro. Como teria uma opinião sobre ele?

- Sei que você será rei. Estou disposto a ajudar.

- Bem, Rew... acho que você está um pouco debilitado para me ajudar...

Ele andou devagar até a mesa que dizia Guerra do Centro - malsucedida, e pegou um gancho, retorcido e cheio de marcas escuras, como queimaduras.

- Sei que estou doente, assim como sei que o Pirata da Adracema morreu, e apenas o que sobrou foi este gancho. - Bateu a arma na mesa, seus escuros olhos brilhando intensamente. - Mais algum impecílio?

- Como você pretende me ajudar?

- Sei uma outra entrada para a sala do trono - disse, calmo novamente. - Posso lhe mostrar onde é.

- Sim, seria muito bom.

- É. Mas quero algo em troca. Duas coisas - Rew balançou dois de seus dedos no rosto.

- Diga-me, e verei se posso fazer.

- Ah, o rei pode tudo - ele tossiu, e sangue caiu no chão, neutralizando a poeira. - Quero que se lembre de mim quando vier o eclipse, e o assista por mim; e quero que perdoe os crimes de minha família.

- Qual é sua família? - perguntei, com medo da resposta.

- São os Esfer. - Não os conhecia. - Se isso fizer, podemos ir.

Pensei. Se os Esfer fossem um bando de assassinos, simplesmente estaria causando problemas, e se ele pedia perdão por eles, tinham problemas. Mas, pensando assim, todos tinham problemas com o rei Rick. Até minha mãe, que salvara várias pessoas em guerras, os tinha. Então, parecia um bom negócio.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora