Capítulo 31 - Sandra Selia XV

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Szanghi



 — Já está tudo em ordem, senhor — Zelish me disse, enquanto Astellor e Balshin chegavam, gritando frases em Reduktuar, o nojento idioma dos anões parcos. Eles bebiam, e pareciam muito felizes consigo mesmos. — Os Filhos da Dor serão levados de volta por Cridor e Farraster, e os parcos serão nosso reforço.

— Agradeço, Zelish. Logo, saberemos para onde a ovelha balirá.

— Você viu, mestre? — Zelish andava em círculos, incapaz de voltar a se deitar. O sol queimava em minha pele, desagradável. — Viu como o jovem estava louco? Aquilo só podia ser algo macabro.

— Nada disso — rebati. — O Rievo apenas passou por muita coisa.

— Se não tivéssemos chegado a tempo — insistiu ele, enchendo sua caneca verde com mais cerveja do que o recomendável para uma guerra —, o garoto estaria morto!

— Não considero isso como total verdade, Zelish — sempre considerei Zelish Devor meu melhor amigo, e ele era um dos poucos com quem gostava de conversar e me embebedar. Confiaria a Zelish minha vida, mas procuraria primeiro o velho curandeiro, Balshin. — Se ele é mesmo o Escolhido de Sortbell, não morreria. Do jeito que Sortbell é enxerido...

Zelish sorriu. Gostávamos de falar mal do Senhor da Paz, pois ele era o pior Misterioso vivo, talvez até pior que o Dirígelo I. Pelo menos o Senhor das Trevas tinha algum caráter, alguma honra. E poder absoluto, aliás.

Quando decidi entregar-me à bebida, e encher uma caneca para mim, o jovem Rievo berrou, acordando com a respiração falha. Balshin, o Curandeiro, ergueu-se bruscamente para socorrê-lo, mas caiu no chão, muito bêbado para ser útil. Abaixei-me até ele. Ele parecia normal, apenas acordando de um sono duradouro.

— Quem... quem é você? — gaguejou, e sorri ao perceber que estava bem. — Quem são esses anões? O que está acontecendo?

— Ei, mestre — Astellor disse, o melhor e mais jovem artesão de meu povo, careca de cabeça e louro de barba, sua voz tão arrastada que quase não entendi —, achei que Lankher não fosse um racista.

— Ele não o é — disse, sacudindo Lankher com força. — Apenas não nos conhece. — Lankher abriu o olho. — Calma, jovem. Estamos do seu lado.

Lankher me observou, e olhou hesitante na direção do sol.

— Por que está de manhã? O que houve...

— Posso explicar tudo, jovem senhor — sentia pena pelo guerreiro. — Estou do seu lado, vou lhe explicar — repeti, e ele parou de se debater.

— Diga-me. Diga-me o que diabos está acontecendo.

— Direi. Você está em Drome, na cidade de Rigg. São 13 Instares, e você estava desmaiado até agora. Estávamos com seus amigos, fomos te ajudar. Você estava com alguns problemas mentais recentes, e eu e Zelish o curamos. Se tivéssemos demorado mais um pouco...

— Senhor, acho que isso é demais para o cérebro limitado dele — Astellor disse, e Balshin gargalhou, ainda caído no chão. — Ainda mais agora.

— Astellor, peço que fique quieto, agora. — Astellor parou de falar, e tentei sorrir para Lankher. Meu braço ainda latejava. Lankher se levantou, e seu olhar me mostrava que ele temia que algo tivesse se cumprido: os humanos são fáceis de se decifrar.

— Anne e Travis — ele disparou. — Onde estão Anne e Travis?

— Mortos — disse com sinceridade, notando que ele choraria em poucos Vultares. E aconteceu logo.

1 - Terra de Sombras - A Revolta de OzitOnde histórias criam vida. Descubra agora