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Isabel acordou e soube que horas haviam se passado. Experimentou estender os membros. As dores tinham diminuído consideravelmente.

Com cuidado, levantou-se. Suas pernas estavam bam­bas, mas precisava usar o banheiro, e jamais pediria ajuda à  Duda para uma coisa dessas.

Devagar, foi para o banheiro. Teve vontade de tomar um banho, mas decidiu não arriscar sua sorte. Então lavou as mãos e o rosto, automaticamente abriu uma gaveta.  Quando Duda morava no Rio, ele sempre tinha uma gaveta que continha escovas de dente novas. Tentou não pensar em quantas mulheres tinham aberto aquela mesma gaveta nos últimos meses.

Ela escovou os dentes e penteou os cabelos.

O roupão de Duda estava pendurado, como sempre, atrás da porta. Alguns hábitos nunca mudavam. Ela o vestiu sobre a camiseta e saiu à procura de sua filha.

A enorme cobertura de dois andares estava silenciosa. Que horas eram? Incrível como perdera a noção do tempo.

Isabel desceu a escadaria em espiral, segurando no corrimão, uma vez que ainda sentia fraqueza nas pernas.

Ouvia uma voz? Parou ao pé da escada.

Sim. Havia uma luz brilhante no fim do corredor que levava, ao que parecia, à cozinha. Lentamente, ela seguiu para lá, os pés descalços si­lenciosos contra o piso frio de mármore... e parou à entrada, os olhos se arregalando.

A voz que ouvira era de Duda. Também descalço, ves­tido em jeans e camiseta, estava sentado num banco alto ao balcão de granito, segurando Gigi na curva de seu braço.

O bebê o olhava e sugava alegremente uma mamadeira.

Os dois pareciam como se tivessem compartilhado aque­le momento desde sempre.

- Ei, princesa... - murmurou Duda. - você está fazendo um ótimo trabalho. Beba tudo. Sei que não é com isso que está acostumada, mas lhe fará bem do mesmo jeito. Isso fará você se tornar uma menina ainda mais linda no futuro. Muitos meninos vão cair aos seus pés. - Gigi o olhava bem interessada na mamadeira e na conversa de Duda. - Bom, acho que você não deve pensar em garotos. Não até os 30 anos. - disse sorrindo.

Os olhos de Isabel se encheram de lágrimas. Ela encostou-se contra a parede, determinada a não deixar que Duda a visse até que recuperasse o controle. Ver seu amor... seu amor de uma época... e sua filha daquela forma, era quase mais do que podia suportar.

Entretanto, sabia que não podia se iludir com a cena.

Duda era um homem inteligente e capaz. Deparado com um problema, sempre tentaria resolvê-lo. Ela esta­va doente, o bebê precisava de cuidados... ele assumira o controle da situação. Ele era bom nisso. Todavia, era impossível vê-los juntos sem sentir uma alegria quase in­descritível.

Caminhos Cruzados (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora