Capitulo 10 - A saudades Revisado

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Laís ficou até de madrugada olhando pela janela. Por fim, constatou que Christopher estava certo, Ian não voltaria, não hoje. Tirou o hobbie e colocou-o perto da cama, junto com o roupão de adorável marido. Deitou-se em seu lado, cobrindo-se e se aquietando. Estava perdida em pensamentos quando se lembrou de uma coisa. Será que ele tentaria matá-la durante a noite? Ela se endureceu na cama, virando-se pra olhar o marido. Ele dormia tranquilamente, uma expressão serena no rosto. Ele pode estar fingindo. Tirou uma mão lentamente de debaixo da coberta, e passou na frente dos olhos dele, fazendo movimentos bruscos, mas ele continuava adormecido. 
—Que diabos você pensa que tá fazendo? —Murmurou, rouco pelo sono, mas o azul de seus olhos já estava completamente atento, encarando-a.
—Ai!—Ela se afastou, assustada. —Nada, nada não, boa noite. —Disse depressa e se deitou de costas pra ele, bem afastada. Christopher franziu a sobrancelha, mas sorriu e voltou a fechar os olhos.
Laís acordou cedo na manhã seguinte. Banhou-se e se vestiu enquanto Christopher ainda dormia. Só veio reparar o rosa escuro do vestido depois que o vestiu. Odiava rosa, mas não o trocaria, não havia coragem de voltar ao quarto. 
Ian ainda não havia chegado. Constatou assim que ouviu os empregados lhe informarem. Ódio.
Pediu que a mesa fosse posta no jardim e se sentou no pouco sol para que pudesse tomar seu café com tranquilidade.
Foi então que um taxi parou na porta da casa. Os portões de grade e a mesa propositalmente virada para o portão faziam com que a menina tivesse a visão completa da rua.
De pronto a curiosidade nasceu em Laís, quem estaria tão cedo ali?

Laís aos poucos se levantou das cadeiras finas de jardim. Tudo ali era refinado de mais paro o gosta da menina.
A imagem masculina lhe interessou de imediato. Conhecia aqueles olhos claros. Aquele cabelo curtíssimo. Os braços. Sim ela conhecia quem estava ali.
—Laís. —A voz masculina chamou pelo nome da menina assim que a viu.
—Fred. —Um sorriso tolo nasceu nos lábios da menina. Frederico estava ali. Sem pensar em nada ela largou o cacho de uva no chão e correu pra ele.
Frederico de imediato pegou a moça no colo. A forma com que ele a abraçou, fez Giorgia que servia o café pra menina suspirar. Se Christopher visse a pobrezinha estaria em maus lençóis.
—Você está linda. —Frederico a soltou e segurou o rosto dela entre as mãos. —Pensei que nós não nos veríamos mais. —O menino encostou a testa na dela e ficou sentindo a respiração ofegante dela.
—Você também! Nossa Fred, ainda mais crescido. Nem parece mais o mesmo.
—Deixa eu te beijar? —Ele falou baixo. Apenas pra que Laís ouvisse.

—Não posso arrumar mais problemas do que já tenho. —A menina falou baixo. Frederico se afastou dela de imediato e só então reparou nos braços da menina. A pele branca continha inúmeras marcas que alternavam a tonalidade do roxo.
Christopher olhava tudo da janela do segundo andar. A cara dele não era das melhores possíveis. Giorgia que havia ido ao quarto apenas recolher as roupas sujar logo notou.
—Quem é? —Ele não conhecia Frederico, mas a forma com que os dois se abraçavam havia irritado o homem profundamente.
—Eu não sei o nome senhor. —A mulher disse sem jeito. —Mas eles vão se sentar na sala principal, a senhora já pediu pra que eu prepare um lanche pra ele.
Christopher nem respondeu. Se vestiu o mais rápido que pode e desceu. 
A primeira coisa que viu foi o rapaz e sua esposa abraçados enquanto ele cochichava coisas inaudíveis e Laís ria sem parar.
—Bom dia. —Christopher saudou assim que entrou na sala. Não podia negar a vontade de matá-lo, mas era melhor que parecesse educado. —Você é?
—Frederico, somos primos. —Frederico mentiu, mesmo sabendo que sem custo algum Christopher podia descobrir que ele era tio de Laís. Mas era bom ver a cara de ciúmes dele. Mesmo assim Christopher estendeu a mão, e ele a Fred apertou com força. 
—Sou Christopher, marido de Laís. —Ele viu o olhar de Frederico endurecer. 
Logo ele deixou os dois a sós. Laís ainda tentava entender o porquê daquele comportamento do marido. Aquele não era o homem que ela conhecia, não era mesmo.
Havia tempo que Laís não sentia essa felicidade, esse tipo de felicidade que a fazia arfar e querer ficar próxima de Frederico por um tempo indeterminado. O menino ainda não havia aceitado o que Antonio havia feito. Não conseguia entender, qual foi o motivo que o levou a mandar a filha pra Europa pra se casar com alguém que ele nem se deu ao trabalho de conhecer. Após passar o frisson da chegada, os dois começaram a conversar. Pena que a conversa tomou um rumo menos alegre.
—Porque não me avisou? Porque não mandou um e-mail, eu não teria deixado. —Disse entre os dentes quando Laís lhe contou das circunstancias em que casara.
—Agora é tarde Fred.
—Desse um jeito, demônios Laís, você não podia ter deixado isso acontecer. —Disse irritado. — Aliás, eu odiei seu marido. —Laís arregalou os olhos assustada.
—Como é o seu relacionamento com ele? —Frederico era atencioso.
—Horrível. Não podíamos nos dar pior. Eu o odeio. —Tinha um fundo de verdade. Mas ódio não era o único sentimento que ela tinha por Christopher.
—Ele te maltrata? — A reposta Frederico já sabia, porém pressionou.
—Não posso mentir pra você. —Ela suspirou e ergueu os braços pra que ele visse. As enormes marcas, agora quase pretas, da violência de Christopher no dia anterior se mostraram. —Isso responde a sua pergunta? —Perguntou amargurada.Frederico parecia ter levado um tapa na cara.

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