As horas se passaram. Laís ficou desenhando, era um de suas atividades mais desestressantes. Toda vez que havia uma confusão com Christopher era assim que ela se relaxava.
Colocou os lápis e lapiseiras dentro de uma caixa de madeira e ficou se perguntando pra onde levaria. A primeira coisa que veio em sua cabeça foi o sótão. Era pra lá que iam as coisas empoeiradas, emboloradas ou que não usávamos com tanta frequência. Considerou a ideia. Ela iria rápido, deixaria a caixa lá, e voltaria. Christopher nem notaria. Ela pegou a caixa entre as mãos, e avançou pela primeira vez pela escada pro terceiro andar.
Estava tudo escuro. Só havia a luz do dia que amanhecia, que entrava pelas frestas das janelas fechadas. Mas Laís não estava preocupada com isso. Conseguia ver muito bem. E a primeira coisa que viu foi o quadro de uma mulher, de tamanho real, vestida em um vestido preto. Do lado desse quadro havia outro, só de busto. Laís esperara tudo, menos isso. Ela largou a caixa no chão e avançou pelo cômodo. Parou em frente ao quadro de corpo todo. A mulher era clara, os cabelos eram ondulados lisos com os dela, de um loiro médio, caindo até a cintura. Seus olhos eram verdes, de um verde vivo. Tinha um sorriso de canto na boca. Era linda, Laís pensou sozinha. Ao seu lado, o rosto da mulher a encarava, com um sorriso no olhar.
-Deus do Céu. -Murmurou, avançando pelo enorme cômodo. As paredes eram cobertas de fotos da mulher. Havia um manequim num canto, com um vestido vermelho vivo.
Laís foi até uma das diversas prateleiras que havia ali, se sentindo dentro de uma ópera de terror. Havia arquivos e mais arquivos. Ela puxou um, delicadamente. Era uma carta, antiga. Ela desdobrou com cuidado. Reconheceu a letra de Christopher no papel desgastado.
Amanda,
Minha mãe tem criado problemas. Aliás, aqui tem sido problemas de manhã até a noite. Hoje a noiva de Ian veio até aqui. Eles só vão se casar daqui a dois anos, porém, Ian insistiu em vê-la, queria conhecer. Sinto sua falta. Penso em você a todo o momento. Vou dar um jeito de escapar, e irei até você.
Eu te Amo.
Christopher.
Laís olhava a carta como se aquilo lhe causasse nojo. Dobrou-a de novo, com menos cuidado do que quando desdobrou, e pôs no lugar. Pegou outra. Dessa vez a caligrafia era feminina.
Christopher,
Está cada vez mais difícil escrever a você! Diego é um inútil, está começando a criar caso. Ele é a favor da sua noivinha. Você precisa resolver isso, rápido. Eu estou cansada de ficar escondida.
Da sempre sua,
Amanda.
Laís ficou com aquilo na cabeça durante a noite e todo o dia seguinte. Cuidou de Sophi com a cabeça distante. À noite, estranhou aquela cama enorme. Nunca dormira ali sem Christopher. Ele havia viajado pra resolver problemas da empresa, dando alguns minutos de sossego pra Laís. Tampouco dormiu muito. Passou a maior parte da noite olhando a chuva bater na janela. De manhã, acordou com os gritinhos de Sophia, vindos do lado de fora. Levantou-se de supetão, indo até a janela. Sophia corria atrás de Carllo pelo jardim da mansão.
-Sophia!-A menina não ouviu. -Vai piorar. -Murmurou pra si mesma, pegando o hobbie.
Laís estava com uma camisola de seda longa, branca, e o hobbie era igual. Sabia que era errado sair assim, mas Sophia ia piorar se continuasse no frio.
-Ei, ei, ei!-Segurou a menina, que ia em disparada atrás do cachorro, que voava na sua frente.
-Mas, Laís... -Começou a questionar.
-Sem "mas". Você tá doente, devia estar no seu quarto. Vai piorar. -Sophi mordeu o lábio, como se pedisse desculpas. As duas começaram a caminhar até onde Carllo estava.
-Sophi, você conheceu alguém chamado Amanda? -Perguntou, tentando passar despercebida.
-Conhecer não, mas esse nome me é familiar. -Ela tentou se lembrar, sem sucesso. -Você conhece?
-Eu não, mas o Christopher parece conhecer. -Disse com amargurada. -Eu fui levar uma caixa pro sótão, e tem... tem uma foto dela lá. -Resumiu.
Mas antes que Sophia pudesse responder, Carllo começou a latir e do nada, uma voz surgiu, fria e cortante.
-Então você resolveu me desobedecer. -Disse, aparecendo na lateral de Laís e Sophia. Laís empalideceu. Que diabo, ele não tava viajando?
-C-Christopher. -Murmurou, recuando.
-Não corra. -Advertiu furioso.
Laís e Sophia agiram juntas. As duas se viraram e dispararam correndo pra mansão. Ao chegar à escadaria, Laís pegou Sophi pela cintura, erguendo-a do chão, e desatou a subir. Ao entrarem em casa, Laís olhou pra trás, e Christopher não estava mais lá. Seu peito doía de medo, de terror. Subiu correndo com Sophia, e entrou em seu quarto, fechando a porta e se escorando nela. Só o que houve foi o silêncio.
-O que foi? -Perguntou, ofegando.
-Eu disse que não adiantaria correr. -Advertiu frio, encostado calmamente no guarda-roupas, como se estivesse lá o tempo todo.
Laís gritou de susto. Em seguida, puxou Sophia e pôs pra fora do quarto.
-Se tranque no seu quarto e só abra a porta pra mim. -Disse rapidamente, e fechou a porta do quarto, se virando pra Christopher. Ele estava transformado. Respirava como um touro irritado, seus olhos eram ódio puro, e Laís sabia que não podia fugir.
-Eu avisei a você, Laís. Faça tudo, menos ir até lá. PORQUE ME DESOBEDECEU? -Christopher gritou, avançando pra ela, que recuou pra perto da cama.
-E eu só fui levar... -Ele nem deixou que ela terminasse de falar, a interrompeu com fúria. -ESPEROU QUE EU VIAJASSE PRA IR ATÉ LÁ!-Disse, agora próximo dela.
-Tudo isso era pra eu não ver a sua namorada, Christopher? -Perguntou, se jogando a morte. -Teve um lado positivo, agora eu sei porque você me odeia.
-Eu não matei a minha mãe. -Começou transtornado, fugindo completamente do assunto. -Eu amava a Amanda. -Ele disse, e o tom em sua voz não era de amor, chegava a ser veneração.
-ENTÃO VÁ E FIQUE COM ELA! ME DEIXE EM PAZ!-Gritou, tomada pelo ciúme.
E então um golpe furioso lhe atingiu o rosto, e ela caiu no chão. Sentiu o gosto do sangue na boca. Mas antes que pudesse reagir, algo lhe atingiu as costas. Uma fivela, um cinto talvez.
Parecia estar cortando sua pele em tiras. Ela ouvia o grunhido de Christopher a cada golpe que recebia. Tinha experiência, gritar não adiantava nada.
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A Nobreza
RomanceA Nobreza Antoni por inconsequência havia cometido um erro. No nascimento de Laís sem que a mulher soubesse havia prometido a filha em casamento. Cinco anos se passaram e foi então que ele contou a esposa que a pequena filha do casal seria entregue...