Capitulo 25 Intuição

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Foi então que ela tropeçou. Haviam algumas sacolas por ali e desatenta acabou se embolando. Na tentativa de segurá-la Ian foi junto. Ela caiu deitada na cama, com ele por cima. Os dois riam, alegres. Quando o riso foi morrendo, e Laís o beijou. Foi como sempre, o beijo começava calmo, e ia esquentando. Mas dessa vez, quando Ian ia se afastar, ela o impediu. Ele ergueu o rosto por um minuto pra encará-la, confuso. Depois voltou a beijá-la. Laís o queria. Queria provar a si mesma que Ian podia satisfazê-la. Enquanto isso, longe dali...

-Espera. -Christopher pediu, esquivando-se de Amanda que o encarou, confusa.

-O que há? -Perguntou, se afastando.

-Não... Não sei. -Sua expressão era dura, como a de uma pessoa que estava sendo torturada.

-Sente algo? -Indagou com uma falsa preocupação.

-Sinto. -Era como se sua garganta estivesse se fechando, trancando a cada segundo.

-Vou buscar algo pra você beber. -E saiu apressada.

Algo sufocava o peito de Christopher, a cada minuto mais. Era como se algo seu estivesse sendo arrancado, arrancado pelas mãos de outro. Ele olhava fixamente pra frente, torturado. O que estava havendo? Ele olhou pra fora, pela janela. A cidade era quase invisível da suíte do hotel, tamanha era a densidade da tempestade de neve.

-Tome, beba isso. -Ofereceu o copo a ele. Christopher virou o copo de água fria na boca em um só gole. Não ajudou. -Está me preocupando.

-Eu tenho que ir pra casa!-Exclamou. Era quase como uma obrigação. Seu corpo lhe obrigava a isso. -Agora. Tenho que ir agora. -Disse, apressado.

-Por quê? -Amanda estava completamente confusa.

-Tem que ser agora, depressa. -Constatou, e saiu, deixando-a mais confusa ainda. Amanda olhou pela janela e viu quando Christopher se lançou na neve sufocante, com o carro em uma velocidade surpreendente, e desaparecendo em direção a estrada que dava na mansão Stravinsky. Algo sério devia ter acontecido.

Laís estava em seu quarto, penteando os cabelos. Em seu pensamento, as últimas cenas com Ian no chalé reinavam. Fora tão... diferente. Diferente de tudo que ela conhecia. Diferente de tudo o que havia sentido. Eles, rindo, voltaram pra casa na chuva. Ele foi pro seu quarto, e ela pro dela. Tomou um banho, vestiu uma camisola agasalhada, e agora penteava os cabelos molhados. Seu corpo estava tomado por sentimentos diferentes. Agora, oficialmente, ela havia traído Christopher. Com Ian fora exatamente como ela imaginava, antigamente. Era entrega de ambas as partes. Era desse jeito que ela sempre sonhara que seria sua primeira vez. Sem medos, sem receios. E depois o prazer. Um prazer tão grande que chegava a sufocar, cegar, ensurdecer. Sorriu de canto, com a lembrança fraca dos gemidos dos dois, enlaçados naquele pequeno cômodo, se confundindo com o frio imposto pelos flocos de neve. Ela gostou. Melhor, ela adorou. Depois, não houve constrangimento quando acabou. Era como se eles não tivessem feito nada errado. Ela e Ian brincaram, riram, enquanto ele ajudou a vestir ela. Mas por outro lado, maldição, ela amava Christopher. Agora que estava sozinha, se sentia imunda. Pobre Felippa, presa do outro lado do mundo, enquanto Laís seduzia Ian aqui. Enquanto isso, no andar debaixo...

-Christopher!-Diego chamou assustado, ao ver o irmão entrar rapidamente pela sala, completamente cianótico, deixando um rastro branco atrás de si.-O que houve?!

-Laís?-Perguntou rapidamente.

Laís ainda estava lá. Em seu cabelo não havia nó nenhum, estava completamente liso e molhado, mas ela ainda o penteava. Remorso. Não arrependimento, mas remorso. Era adultera. Era como Christopher. Ela se assustou quando ele entrou bruscamente no quarto, fechando a porta. Deus do Céu, estava cianótico, congelado. Mas seu olhar... Laís conhecia aquele olhar. Não era o demônio. Era o seu Christopher. E estava sendo torturado. O olhar dele sofria.

-O que houve?-Perguntou, se controlando. Sua vontade era abraçá-lo, e consolar aquele azul angustiado que ela tanto amava.

Mas Christopher avançou até ela, e ergueu as mãos frias e roxas pro seu rosto, tocando-o desesperadamente.

-Deus, o que você fez?-Murmurou, olhando-a, enquanto a mão fria acariciava o rosto e o pescoço dela

-Não fiz nada. -Laís mentiu, observando-o.-Me solte.-Pediu, dando um passo para trás.

-Não.-Murmurou, puxando-a pela cintura com um braço, e tocando-a com o outro.

Christopher abaixou o rosto até o pescoço dela, aspirando seu perfume como se fosse o ar que lhe mantinha. Ali só havia o cheiro do sabonete e do perfume que ela usava. Laís estremeceu com o toque. Inferno, não.

-Christopher me largue.-Pediu, empurrando-o.

-Sinta nojo de mim. Vomite depois, se assim quiser. Mas, por favor...-A voz dele falhou, enquanto tocava o cabelo dela, olhando-a com os olhos azuis que ecoavam em dor. Laís se calou, e ele a beijou sedentamente. Ela queria tanto poder ceder, queria tanto se deixar levar...

Laís, sem perceber, pôs sua mãe no peito dele, sentindo aquele beijo que tanto lhe fazia falta. Até que uma palavra riscou sua cabeça tal como um raio. Amanda. Ela o empurrou. O empurrou com tudo o que podia. Ele a soltou, atendendo a sua investida. A dor em seu olhar parecia ter se amenizado um pouco.

-Assim não. -Avisou, recuando.

-O que você fez?-Ele perguntou, com a voz mais clara, observando-a.

-Já disse que não fiz nada.-Ela tirou o cabelo da frente, erguendo o rosto pra ele.

-Você nunca soube mentir.-Acusou, agora com a dureza retornando a sua voz.

Ali estava. Erguendo-se do inferno. Laís sabia o que ia acontecer. Ele brigaria com ela, e voltaria pra Amanda. Nada mudara. Foi só uma recaída.

-Não estou mentindo.-Ela repetiu, agora com frieza na voz.

-O que você está fazendo, então?-Perguntou debochado.

-Você me disse que há toneladas de peixe nas águas. Então eu vou provar das águas.-Desafiou.

O deboche de Christopher sumiu ao ouvir isso. Ele avançou violentamente pra ela, que recuou. Ele a encarou por um minuto, parecendo brigar consigo mesmo, depois respirou fundo e voltou ao seu lugar.

-Você vai se machucar seriamente com resultado dessa história.-Ele avisou duro e gélido como sempre, o seu tom de voz era assustador.

-Sai daqui.-Ordenou, dura. Ele assentiu uma vez e saiu, batendo a porta, deixando ela tomada pela raiva.

Os dias se passaram, calmos e sôfregos. Laís estava cada vez mais ligada a Ian. O relacionamento dos dois, a essa altura, incendiava.

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