Lúcia, a Lúcida

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Lúcia comprava muitas canetas. Numa terça-feira chuvosa, na volta para casa, após outro dia distante e distorcido, ela avistou uma lojinha charmosa parada no tempo.

O caminho se exibe e promete a ela letras e cores, e ela o percorre com ensaiada leveza. A porta entreaberta a convida para um jogo de histórias, do qual Lúcia aceita sem vírgulas ou reticências.

- Conte-me sobre sua vida.
- Eu compro canetas e flutuo.
- Como um humano pode flutuar?
- Como uma porta pode jogar histórias?
- Você conseguiu me pegar, humana, contudo, quero que saiba que não as jogo, esta é minha fachada para pedí-las.
- E por que optou por pedí-las?
- Portas não têm histórias. Nos contentamos com humanos as dividindo conosco, é o mais próximo que temos de flutuar.
- Acho que portas têm histórias. A diferença é que vocês não podem comprar canetas.
- Você gosta de flutuar, humana?
- É como ser o único ponto focado em uma fotografia de humanos.
- Maldita Lucidez.

Lúcia acordou sentindo todos os músculos do corpo, com um livro no colo, e uma caneta na mão.

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