sentada na classe de sempre, virada de lado, observando o balanço quase poético dos galhos de uma árvore qualquer.
alguém bate na porta sem tranca. logo reconheço os traços finos, o olhar profundo do que se considerava uma amiga. cheiro de cigarro se arrasta junto a ela, e noto algo pequeno em suas mãos.
todos olham para ela, esperando alguma coisa. aquele pequeno objeto em suas mãos toma a forma de uma delicada lâmina.
aproxima seu cheiro de cigarro e sua delicada lâmina de minha classe, e, por instinto, levanto-me.
como se algo quebrasse dentro dela ao receber meu toque efervescente, sou capaz apenas de sentir o gélido deslizar da lâmina de dentro para fora, e o amanhã que nunca virá, vermelho como a aurora, paira sobre o que resta de minha consciência.
consigo acompanhar com os olhos as linhas de um vermelho escuro vazando vulgarmente, escorrendo por seus pulsos, algumas palavras sopradas sem o fôlego necessário para que pudessem ser ouvidas.
imaginei desculpa.
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Y
PoetryTextos desocupados de dores com sabor de açúcar, amores ácidos e borboletas amarelas.