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Não consigo me apegar. Amar por amar é tão fácil, aprendi a gostar de amar as pessoas ao meu redor. As que fazem parte de quem eu continuo ou não sendo. É a primeira vez que escrevo sem ter um rascunho; papel velho guardado na gaveta de um dia em que as coisas deram tão errado ou tão certo que precisei escrever para não explodir de bagunça. É sobre a figura inabalável que construí ao longo dos anos. A que usa o humor para jogar para fora sentimentos que muitas vezes não refletiam o que estava por dentro. A que diverte. E as coisas param por aí. Sempre admirei meu trabalho. A obra finalizada da figura humorística e cênica que só sente quando escreve textos no anonimato. Não que isto tenha se demorado, logo vi o que minha figura estava causando. Aos poucos, fui contando para amigos próximos o que eu era de verdade. Não quero aqui dizer que todas as coisas que fiz e todas as vezes que sorri foram inverdadeiras, muito pelo contrário, minha figura é uma de minhas várias partes, é uma parte do escudo. "Não imaginava que tu escrevia". "Gostei do que tu escreveu". Ouvi frases assim, de amigos descrentes para com a criatura tragicômica na frente deles, esperando que vissem o desespero nos olhos. Na época nem eu via. Não via muita coisa além do que estava perto. Não suspeitava das costas viradas ou dos sorrisos amarelos. Meus amigos aceitaram a bagunça das minhas cores e traços, e foi aí que senti a força das palavras. A retirada da engrenagem funcionou, afinal. Sementes podem germinar erroneamente, mas, para o justo ou o injusto, elas germinam. Transformam-se. Alguns amigos eu perdi, mesmo com as palavras, ficaram para trás em seus próprios caminhos labirínticos, como diria meu primo. São essas as culpas que carrego, das dores azedas dos labirintos que criamos. Perdi a capacidade de confiar. É este o medo menor das pequenas batalhas. Dói falar a verdade e admitir que às vezes não tô bem. Dói mais ainda quando não sou fiel a mim mesma e tento mostrar ao mundo coisas que às vezes não sou. Não sinto. Nem mesmo acredito. Mas faço pelo calor da humanidade vibrante. Esta figura que me dá a chance de ver e sentir em primeira mão o valor das palavras e dos sorrisos. O calor da humanidade me sustenta, mesmo que nas noites de terça-feira eu esteja sozinha numa sala cheia de gente. Espero um dia não ter medo de ser fiel a mim mesma e aceitar que nunca fui inabalável, apenas orgulhosa demais para aceitar erros acertos ou desculpas. Mesmo as escritoras redundantes se apoiam na clássica melancolia dos personagens almadiçoados pela próprio passado para darem forma ao conteúdo espiralante.

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