Da analgesia/1

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Escolhi a dança pelo mesmo motivo que escolhi a arte como um todo. É pela energia vibrante que corre por entre todas as coisas que vêm até mim. Escolhi dança porque minha liberdade é dança. Danço a felicidade a tristeza o pútrido e o ser. Meu manifesto é dança e por ela sou tomada tal qual o vento que sopra livre por entre as colinas montanhas pradarias e depressões. Às vezes sinto medo pela arte que morre quando morro e que tudo que fiz traga nada a ninguém. Por quem eu danço? Para quem? Se danço bonitezas para elite de nada me servem os questionamentos. Não sentirão cócegas ou desconfortos. Que minha arte não seja analgesia. Danço então para quem sente no corpo a dor da fome? Levo dança nos cantos esquecidos pelo tempo e por deus? E se para mim não há deus, danço então por mim mesma pela vida pela liberdade? Sigo caminhando com mais perguntas do que respostas. Talvez essa a ânsia da mudança que perpassa todos os caminhos pelos quais percorri. O ponto em comum. Sempre dançando a frustração maior que não cabe no peito e nem mesmo tem nome. Escolhi a dança pela rebeldia da arte em manter-se viva até nos momentos em que nem mesmo nós parecemos estar. Posso aprender ballet, jazz, zouk, contemporâneo, samba, frevo, sapateado. Posso ensaiar por horas a fio uma coreografia para a Noite da Dança. Posso me colocar nestes espaços de aprendizado para seguir questionando o que sou enquanto artista e de que forma levarei este ser artista com esse quê de revolução para fora daqui. Para onde vai a minha dança? As palavras "liberdade" e "metamorfose" seguem sendo minhas prediletas. 

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