Costumo olhar para o passado. Volto aqui e lá, longe e perto. Penso logo em Marielle. Vejo as bruxas que por nós lutaram. Seja em fogo seja em bala, morremos. Morremos lutando. Mas não sabemos quem matou Marielle. Religião e Igreja se perdem no caminho enquanto se apropriam da decisão sobre nossos corpos. Corpos nossos, de carne e liberdade. Nosso amor também é luta. Que siga firme a resistência do amor. Nós, mulheres, somos força da natureza que perpetua o ódio que nossas irmãs queimadas mortas estupradas torturadas deixaram para trás. Lembro-me ainda de Lola, morta pelos anos da ditadura. Vivemos para lembrar o porquê de estarmos aqui. Somos a luta pela vida em forma de mulher. Neste dia não são das flores que lembramos (pra não dizer que não falei das flores).
Lembremos-nos de nós. Porque nossa existência é arte. É luta. E nem sempre porque quisemos isso. Somos de luta desde o princípio, seja pra votar trabalhar decidir sobre o próprio corpo, tivemos que lutar por nós mesmas. Temos a vida dentro de nós. Energia fluida. Mas a decisão é minha. A decisão da vida se dá pela mulher que a carrega. Temos a resistência de um passado difícil de carregar. De um presente abismático em que nossos direitos são retirados. Nós, as operárias estudantes faxineiras professoras cientistas médicas escritoras e artistas. Lutamos em prol da preservação da dignidade humana. Porque pensamos também no dia de amanhã, e mesmo com muros, construiremos pontes. Juntas somos revolução. Lutamos pela América Latina livre e feminista. Nos unimos em nome de todas as nossas companheiras vivas e mortas, lutamos sob o sangue escarlate de muitas histórias que jamais deverão perecer. E juntas levantaremos, vermelhas como a aurora.
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Y
PoetryTextos desocupados de dores com sabor de açúcar, amores ácidos e borboletas amarelas.