fake blonde

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A gostosona. Assim que a chamavam (... chamam?). Aquela aparência que a colocava em parâmetros infalíveis de metida e arrogante. A dona da razão. A pessoa que se considera superior aos outros. Gostei dela? Não tanto quanto gostaria.

E assim passou o tempo. Trocávamos poucas palavras, sobre algo aqui e ali a respeito de um trabalho de história ou prova de matemática. Ríamos às vezes, das mesmas piadas bobas. Tínhamos bandas e cantores favoritos em comum. Mas aquela primeira impressão era mais que uma imagem desfigurada em minha mente. Algo sórdido e fixo. Minha opinião não iria mudar tão cedo. Ouvia outros falando dela, seja da sua aparência ou de sua personalidade. Coisas boas, coisas ruins... Nem sabia no que deveria acreditar, mas, aos poucos, sentia que algo deveria ser diferente. "As pessoas são mais do que aparentam".

Conforme o tempo foi passando, inevitavelmente, comecei a entender. Tive a chance de conhecer frações de sua história. Migalhas, como se sua vida fosse um crime, e cada pedaço de história que eu ia digerindo eram pistas deixadas por ela, inconscientemente, porque um crime há de ser perfeito quando o criminoso não revela sua identidade. Assim perde a graça, eu diria. Acho que ela diria a mesma coisa.

Obviamente, minha opinião mudou. Como quem troca de roupa depois de uma tarde chuvosa. Lentamente, nos aproximamos, porque tínhamos aquele algo em comum, nem sei como explicar. Esse poço a mais. Esse rio tempestuoso dançando nos olhos. Aquele pingo de esperança que há em saber que não sou apenas eu que sinto. A esperança existente ao pensar que as pessoas são loucura amor ira e vida, que podemos nos conectar de inúmeras formas.

Assim, desconheci. Ela é o alguém. Alguém que merece o mundo e muito mais. Não porque inventou a lâmpada, porque escreveu a música mais difícil do mundo, nem mesmo porque gabaritou a prova de física sem consulta. Alguém que merece o mundo e muito mais porque existe. Porque muda o tudo a sua volta. Porque é mais do que falam e mais do que pensam e mais do que ela acha que é. Porque sorri e porque luta, porque dança e porque faz o que quer fazer. Porque aguenta, não apenas por ela, mas por quem merece esse tudo que ela tem a oferecer. E isso é uma fração. Eu sei pouco. Eu não sei nada. Mas essa é a graça da história. 

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