réquiem

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a lembrança é de alguém que nunca se conheceu. cultura vem do indo-europeu "kwol" (que significava uma ideia de andar em torno de alguma coisa). a cultura de saudar os mortos e esquecer dos que ainda não estão. olhou para o espelho e foi agraciado por suas versões mortas; de um passado tão perto tão longe. de tanto olhar pra trás ficou com a cabeça torta o pescoço engraçado e o olhar assustado. preso com fardos que não consegue carregar. desgasta os nós dos dedos querendo se livrar da culpa de não ser capaz de acabar com a dor maior que toma conta do peito. sangra em tom rubro vulgar para não esquecer. réquiem dos mortos pois os que ainda não estão podem logo estar. tão comum quanto quem teme o terrorismo dos oprimidos e sorri para o terrorismo de estado dos opressores. esfola então os nós dos dedos lutando pela liberdade verdadeira. não digo essa liberdade que tenho dentro da minha propriedade privada meu carro novo e meu apartamento financiado. liberdade de nós. lembrou-se do réquiem dos mortos para não apagar das raízes da própria cabeça (que dão a volta ao mundo) a história de nós. olhou de novo para o espelho; enfrenta os silêncios. apreciou as cicatrizes que dão voz à história que carregas sozinha. acaba com a tirania de se prender à imagem do que já morreu. pela janela dá para ver a energia da vida pulsando. luta pelos que sangram em tom rubro vulgar, dos que têm a palma da mão machucada pelo trabalho, dos filhos sem mãe tentando ter uma vida e das mães com os filhos esquecidos pela história, tentando esquecer das suas (tirania do não saber). peço, por fim, um réquiem dos vivos.

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⏰ Última atualização: Jun 26, 2019 ⏰

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