Capítulo • 6

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Eu sinto falta dos dias em que eu
tinha um sorriso no rosto e
Não foi tão envolvido em todas
as pequenas coisas
Não foi tão inflexível que eu
pudesse lidar com tudo sozinho
E não foi tão cauteloso e sempre exausto

NF | I Miss the Days

19 de Março de 2020, Washington D

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19 de Março de 2020, Washington D.C, EUA
06:00 p.m.

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Às vezes me iludo com o pensamento de que todo o inferno que recaiu sobre minha vida desde a infância seja apenas um maldito pesadelo. Que em algum momento irei acordar e me encontrar num lar saudável, sem a podridão das ações daquela que se dizia "minha mãe" manchando o meu passado.

Sou apenas uma casca vazia, e duvido que exista algo bom dentro de mim. É incrível como ações erradas das pessoas ao seu redor podem influenciar no futuro.

Não queria que minhas irmãs estivessem comigo, nada de bom posso trazer para vida delas, mas ao mesmo tempo penso que elas são o único fiapo de vida que me mantém vivo, que faz com que eu acorde todos os dias e tente mudar pelo menos o futuro delas, para não se tornarem fracassadas igual o seu irmão mais velho.

Sinto ódio, muito ódio da mulher maldita que me colocou no mundo. Ela jamais irá merecer o título de mãe. Falhou comigo e depois com as meninas, quando as abandonou há nove meses.

Desde muito cedo tive que aprender a sobreviver sozinho, por Joane estar sempre bêbada e consequentemente esquecer que tinha um filho em casa. Se não fosse por dona Lúcia — nossa vizinha —, talvez eu nem houvesse vivido por mais alguns anos, teria sucumbido a morte, como mais uma criança que teve um triste fim por causa da negligência das pessoas que deveriam lhe proteger.

Na época que conheci Lúcia, tínhamos recém nos mudado para esse bairro, eu tinha sete anos. Nunca gostei de ficar em casa sozinho com Joane, quando bebia se tornava completamente instável e por muitas vezes era o seu saco de pancadas nos momentos de sua fúria. Para fugir dos seus punhos, ficava sentado na calçada por horas a fio apenas observando as pessoas.

Presenciava pais passeando ou jogando bola com seus filhos, no fundo tinha aquele desejo inocente que meu pai aparecesse algum dia para me arrancar daquele inferno. Porra, não deveria sentir certa dor ao lembrar que esse sonho infantil acabou não se realizando.

Em um desses dias, dona Lúcia apareceu. Estava segurando algumas sacolas, achei que passaria por mim como se eu fosse invisível. Não seria uma surpresa se ela fizesse isso. As pessoas tendem a ignorar algumas situações e fecharem seus olhos, sendo que se agissem de forma diferente poderiam mudar muitas situações.

Ela não fez o que eu estava esperando, pelo contrário, se sentou do meu lado. Não puxou assunto, apenas ficou sentada sem falar nada. No início senti medo, que talvez fosse igual Joane e fosse me fazer mal. Com o passar dos dias criamos uma rotina, ela sempre aparecia e se sentava ao meu lado. Até que um dia disse que iria denunciar Joane no momento que viu as contusões presentes no meu braço, e que toda aquela situação era errada, mas não deixei.

Aceitando um novo Amor (03)Onde histórias criam vida. Descubra agora