Saudade

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Pov*Camila

Djedef-re: Ela fingiu estar bastante abalada nas primeiras semanas, porém, quando eu fui assumir o trono, ela não deixou, alegando que eu não estava em condições. Fiquei perplexo ao testemunhar a maneira calculista com que ela manipulou a situação. Seus olhos, antes marejados de suposta tristeza, agora reluziam com um brilho de poder. Logo anunciou que era ela que iria assumir, passando por cima de todos que tentaram contestar. Lembro-me vividamente do momento em que presenciei o assassinato de um dos nobres, o sangue ainda manchando o chão enquanto ela erguia a cabeça com uma expressão fria e determinada. Depois disso, ela assumiu e parou de fingir estar triste, revelando sua verdadeira natureza. Ela sempre traz os amantes dela pra cá, exibindo-os como troféus de sua luxúria e poder. E mais de uma vez ela me forçou a ficar intimamente com prostitutas do palácio, alegando que eu não poderia ser como meu pai... - ele disse, segurando o choro, e eu assenti, sentindo uma raiva descomunal dentro de mim.

Eu nunca pensei que ela faria isso com o próprio filho! Obrigar uma criança a fazer sexo, por que ela não quer que ele seja homossexual é demais! Sinto meu sangue ferver de indignação ao imaginar a crueldade dessa mulher. Posso ver claramente a expressão de medo nos olhos do menino. A raiva queima dentro de mim, uma chama que clama por vingança. Eu vou mata-la com todo prazer!

- Fique tranquilo, querido. Ela nunca mais vai te obrigar a nada! Eu prometo a você! - eu disse, envolvendo-o num abraço apertado.

- Obrigado por voltarem! Eu estava com saudades do papai, e de você também! - ele disse, seu sorriso irradiando gratidão e alívio.

- Nós também estávamos! Tem visto o Hórus? - eu perguntei, ansiosa por notícias.

- Ele veio me visitar algumas vezes, porém pedi para que ele não voltasse. Minha mãe é perigosa, já matou muita gente! - ele disse.

- Eu não entendo, Nefertiabete. Ela era uma mulher boa! Assim como minha mãe, elas eram irmãs inseparáveis... - eu disse, deixando escapar um suspiro.

- O ódio deve tê-la cegado! Ela sempre quis reinar sozinha. - ele disse.

- Eu sei, mas é tão difícil acreditar nisso. - eu disse, compartilhando o peso da decepção e da incredulidade que pesava sobre nós.

- Sim, mas lembre-se, prima, aquela mulher boa e simples não existe mais. Então, se for lutar com ela, lembre-se, ela com certeza não vai lutar justamente!  - ele disse, sua expressão séria ressaltando a gravidade da situação.

- Eu sei que não! Tenho uma coisa pra te contar! - eu disse, sorrindo enquanto mudava de assunto.

- O que? - ele perguntou, seus olhos curiosos brilhando com a expectativa.

- Vou ser mãe! - eu disse, sorrindo, e ele arregalou os olhos, um misto de choque e alegria refletido em seu rosto.

- Estás grávida? Pensei que gostasses somente de mulheres! - ele disse,sua voz carregada de genuína surpresa e uma pitada de humor.

- Eu não estou grávida! Minha mulher que está! - eu disse, sorrindo, e ele assentiu, compreendendo.

- Entendo! Tomou aquela poção? - ele perguntou, seus olhos fixos em mim, buscando confirmar sua suspeita.

- Digamos que sim, é uma longa história. Está sentindo algo diferente? - eu perguntei, e ele assentiu, suspirando, como se as minhas palavras tivessem despertado uma série de pensamentos e reflexões em sua mente.

Digamos que Djedef-re tem um poder muito especial: ele tem algumas visões enquanto dorme, como se os mistérios do universo se desdobrassem diante de seus olhos fechados. No entanto, essa dádiva nem sempre é uma bênção. Às vezes, essas visões se entrelaçam, tornado é difícil para ele discernir onde termina o sonho e onde começa a visão. O véu entre os dois mundos parece tênue, deixando-o em constante estado de perplexidade e questionamento.

 Múmia- CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora