Capítulo 8

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Fui dormir e Dylan acabou ficando lá. Não sei até que horas ele ficou sentado na beira da praia. Acabei pegando no sono e não vi ele indo dormir.
Não sei o que deu em mim para dar aquele beijo nele. Foi na bochecha, mas de todo caso, aquilo não era pra ter acontecido.

Eu estou gostando de conhecer esse lado dele. Ele é uma pessoa diferente agora. Quando ele me disse na biblioteca que iria me provar que a mudança foi pra valer ele não estava brincando. Ele realmente mudou, e pra melhor.

Sei que jamais deveria estar pensando tanto nele como estou nessas últimas semanas, mas estando aqui perto dele e conversado com ele a sós, não tem como não pensar. Preferia vê-lo como um bom amigo. Um atraente, sedutor e charmoso, mas ainda assim, um amigo.

O dia amanheceu e aqui estou eu, no meio de uma praia, sem banheiro, chuveiro e nada de privacidade.
Rebecca me vê, e começa a rir da minha cara de apavorada.

- Calma, amiga. Eu te ajudo. Pela sua cara, você nunca acampou na vida, não é? - ela concluiu bem humorada, e nunca esteve tão certa.

- Deu pra notar?

- Deu sim. Olha, vamos até o cantinho das meninas e lá você toma banho, escova os dentes... Não se preocupa, você se acostuma.

Eu não tinha tanta certeza assim.

- Será? - falei sem esperança disso acontecer.

- Tenho certeza - respondeu, me levando até lá.

Lá tinha mesmo um cantinho improvisado só para meninas. Com alguns baldes cheios de água potável e uma enorme tenda armada, que eu não sei de onde vieram. Devem ter trazido na caçamba de alguns dos carros, imaginei.

Tomei meu banho, escovei meus dentes, enfim, fiz o que precisava. E logo senti minha barriga roncar de fome.
Fui até nossa barraca acompanhada de Rebecca, que não me deixou sozinha nem por um momento, como me prometeu no início.
A arrumei e quando vi que já estava tudo no seu devido lugar saí. E olhando ao redor percebi que já estava tudo pronto. E a maioria já estava até comendo. O que eu não fazia idéia do que fosse aquela comida.
Não vi Dylan em lugar algum. Talvez ele ainda estivesse dormindo, já que era bem tarde quando eu fui me deitar ontem e ele ainda ficou por lá.

Depois que tudo acabou, alguns vestiram suas roupas de banho, assim como Rebecca e foram tomar banho de mar. Eu não estava afim de ficar de biquíni no meio de tanta gente. A maioria ali, nem sequer conhecia, então, decidi ficar apenas observando de longe.

Quando se aproxima de mim um rapaz moreno, alto, de cabelos cacheados, que me dá um sorriso amistoso e puxa conversa comigo.

- Você não vai tomar banho de mar? - ele me pergunta, cruzando os braços e ficando de pé ao meu lado, olhando na mesma direção que eu.

- Na verdade não. Talvez depois - respondi também simpática.

- Acho que nos conhecemos, só não fomos devidamente apresentados. Prazer, Clain - Ele me estende a mão e eu a aperto.

Eu o conhecia de vista. Éramos colegas de classe, mas nunca chegamos a conversar de fato. Eram apenas cumprimentos amigáveis e passageiros e logo ia me isolar novamente. Mas ele parecia ser bem legal.

- Prazer, Clain. Me chamo Liz. E sim, nos conhecemos. - Estava sem graça por nem ao menos ter tido algum tipo de comunicação entre nós antes. Mas antes tarde que nunca.

- Liz. Nome bonito.

Ele tinha uma beleza bem marcante, mas confesso que nunca me saltou aos olhos. Tinha olhos castanhos penetrantes, com longos cílios que causava inveja a qualquer mulher. Tinha corpo de atleta e um sorriso que eu tinha certeza que usava como arma de sedução.
Eu o via sempre, era um dos melhores alunos na classe, e sempre elogiado pelos professores por ser um dos mais centrados e aplicados no estudo.

Ele era músico também, tocava vários instrumentos, entre eles, o teclado, que quase sempre, era o instrumento escolhido por ele em provas orais, e o tocava com maestria. Pra mim, ele parecia uma pessoa inatingível, por estar sempre rodeado de pessoas. Era muito popular também, e por isso o julgava ser igual a grande maioria deles, assim como Dylan já foi um dia.
Confesso que o julguei mal, mas minha experiência com gente assim não eram as melhores.

Estávamos numa conversa paradela, quando se aproxima de nós uma loirinha baixa e um pouco mais magra do que eu achava necessário, que vem correndo de dentro do mar, ofegante e molhada.

- Vamos, Clain. A galera está te chamando - ela fala olhando pra ele, sem dar conta da minha presença ao lado dele.

- Ah, me desculpa, oi - ela me cumprimenta sorridente, mostrando seu aparelho metálico dental, que percebi as liguinhas serem de várias cores - eu nem te vi aí. Prazer, Susan.

Assim como Clain, ela também estende a mão na minha direção, onde eu aperto imediatamente. Era loira natural, com cabelos cacheados acima dos ombros, mais ou menos da minha altura e muito simpática.

- Desculpa, é que tô sem meus óculos, e sou meio míope e um pouco desatenta, tenho que dizer. E bom, como estava na água, não achei que precisasse. E acho que você deve estar me achando uma maluca por falar sem parar. Parando em 3,2,1...Parei.

Fiquei de olhos arregalados de como uma pessoa consegue falar tanto em tão pouco tempo. Ela falou tudo isso sem ao menos respirar, e eu estava me esforçando para não me perder enquanto ela falava sem parar.

- Desculpa, Liz. Essa é minha amiga de infância. Não estranha, ela é um pouco maluquinha mesmo - Ele a puxa pra si, fazendo a garota rir com o ato. Dava pra perceber que eles tinha uma cumplicidade enorme para agirem de modo tão íntimo.

- Clain, não me chama de maluca. O que a Luz vai pensar de mim? - ela reclamou um pouco mal humorada o empurrando pelo ombro, mas logo estava sorridente novamente. Já ele, apenas a solta e rir da amiga.

Ela acabou errando meu nome também, mas aquilo era fácil de resolver.
Eles pareciam ser bem entrosados. Na verdade, eles se pareciam em vários aspectos, um deles, era a forma de falar. Acho que pela convivência entre eles de muito tempo, imaginei.

Susan parecia ser bem protetora com o amigo, não sabia dizer se era pelo nível de amizade deles, mas dava pra perceber que ela queria ser vista com ele, e claro, marcar território talvez imaginando que eu pudesse ser algum tipo de ameaça para a amizade deles, o que eu duvidava que o que ela sentia por ele fosse apenas uma relação amistosa. Ela estava sempre o tocando e depois que me viu perto dele, não saiu de lá.
Mas apesar de tudo, parecia ser uma ótima pessoa. Só era um pouco ciumenta.

Eu ri comigo mesma do modo como se tratavam e se provocavam, por fim, a atenção de ambos estava de volta em mim.

- Acho que estamos deixando a Luz sem graça - ela falou ao amigo.

- É Liz - a corrigi - E não tem problema. É muito legal ver uma amizade de infância que perdurou por tanto tempo.

- Eu tenho que aturar essa coisinha até hoje, acredita? - Ele bagunça os cabelos molhados dela a fazendo reclamar e depois rir arrumando os fios.

- Eu que tenho que te aturar, pentelho - retrucou também. Depois de se provocarem mais um pouco, conversamos por mais um tempo.
Eles erambem engraçados.

Vez ou outra eu ria de alguma coisa que eles contavam da infância deles juntos. Pelo que me contaram, eram bem arteiros e ouví-los falar de algo tão simples, me fez bem.

Ali eu descobri duas pessoas incríveis e super legais. A noite chegou sem eu nem sequer notar. As horas se passaram muito rápido conversando com aqueles dois.

Tinha de ser você (EM REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora