LUÍSA 🌻
A LUA BRILHAVA NO CÉU, mas ao horizonte já era possível ver o sol despontando seus raios.
A avenida estava começando a ficar movimentada, porém a madrugada havia sido devagar. Sabia que não tinha conseguido cumprir minha meta naquela noite. Geralmente as viradas de domingo para segunda eram menos movimentadas, mas aquela tinha superado todas as outras.
A fumaça do cigarro saía de meus lábios e se misturava ao ar frio do amanhecer, retirei meu celular dos shorts jeans rasgados e olhei as horas.
5h50m.
Só mais dez minutos e eu estaria livre para poder voltar ao meu minúsculo apartamento e dormir finalmente. E sozinha. Isso era muito importante. Não teria nenhum homem ou mulher respirando em meu pescoço ou me apertando em partes indesejáveis ou querendo transar mais e mais.
Caminhei lentamente pela calçada observando as pessoas apressadas para seus empregos. Eu já fui uma daquelas pessoas, mas não era mais. Agora, enquanto as pessoas acordavam e iam para os seus respectivos trabalhos, eu ia dormir, quando iam dormir, eu começava minha longa e dolorosa jornada de trabalho.
Logo avistei o letreiro brilhante e chamativo com a palavra "Paradise" em letra cursiva com uma ilha e um coqueiro.
Mais brega impossível, pensei revirando os olhos.
Balancei a cabeça e joguei a bituca do cigarro no chão, chutando uma pedrinha em meu caminho.
– Conseguiu alguma coisa?
Eu levantei o olhar e encontrei uma garota com um pouco mais de 20 anos. Seus cabelos negros e cacheados estavam desgrenhados, provavelmente graças ao trabalho da noite, seus olhos eram tão escuros quanto os meus e conseguiam penetrar o fundo da alma de qualquer mero mortal. Em sua boca pendia um cigarro, como sempre.
– Faltou R$ 100,00 para cumprir a meta, e você?
– Faltou R$ 50,00, como te faltou R$ 100,00? Você é gostosa pra caralho.
– Pelo jeito não é o que estão pensando e você não conta falar isso, Laura, a gente já transou algumas vezes.
– Ei, qual é, Luísa? Eu não te acho gostosa só pelo fato de a gente já ter transado algumas vezes.
– Vou fingir que acredito.
Laura riu e bagunçou meu cabelo, como se já não estivesse.
Nós nos conhecemos logo que entrei no Paradise, Laura já trabalhava lá havia um ano. No começo, nós tínhamos uma atração física muito grande e transávamos quase todos os dias, escondidas de nosso chefe que proibia relacionamentos entre "seus garotos" e "suas garotas" como ele gostava de chamar as pessoas que trabalhavam no clube. Logo o fogo diminuiu e nós decidimos ficar apenas na amizade.
Laura olhou a hora em seu relógio.
– 6h00m, vamos entrar e entregar logo o dinheiro.
Eu concorei retirando o bolo de notas do meu bolso. Passamos pelo enorme salão de entrada que tinha alguns homens e mulheres embriagados pagando suas contas. Em um canto ficavam as escadas que nós precisávamos subir.
O prédio tinha 10 andares mais o subsolo. Os seis primeiros andares eram dedicados aos clientes com 5 quartos cada. O sétimo andar tinha o dobro do número de quartos para os empregados que não tinham condições de ter sua própria casa. O oitavo funcionava como camarim para nos arrumarmos, separado em uma ala feminina e uma masculina. No penúltimo andar ficava a área administrativa, o último era a moradia do dono do Paradise que ninguém poderia chegar perto, e o subsolo era o estacionamento dos clientes.
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EntreVidas 🌙
Teen FictionLuísa é uma garota de programa que odeia o que faz, ela entrou nessa vida pela necessidade, todos os dias espera se livrar do emprego, até que descobre que há algo muito errado com o clube em que trabalha. Vitor tem o emprego perfeito, a família per...