LUÍSA 🌻
MIGUEL E SAMUEL APARECERAM MEIA HORA DEPOIS E ELES ESTAVAM... Do mesmo jeito que nós os deixamos, ou seja, não aconteceu nada, seja lá onde estavam, eles não estavam fazendo nada.
Vitor, Felipe e Samuel foram embora logo depois e eu aproveitei que todos os meus amigos estavam reunidos em volta do bar para conversar sobre algo.
– Vocês vão folgar na segunda? – Perguntei me sentando ao lado de Laura.
Todos concordaram e eu marquei de irem ao meu apartamento para que pudéssemos conversar. Também estava planejando contar sobre eu ter me tornado acompanhante de luxo de Vitor, pois sabia que Agatha iria espalhar alguma fofoca sobre mim, então já queria deixar bem claro o motivo do meu desaparecimento para as únicas pessoas que me importavam dali.
Todos éramos diferentes daquele grupo, cada um com a sua etnia, sua crença, sua aparência, sua origem, sua identidade, com alguns ideais parecidos, mas cada um com a sua guerra contra a sociedade, seja ela por ser mulher, negro, indígena ou pertencente ao LGBTQ+, porém tínhamos o mesmo objetivo: acabar com o que quer estivesse acontecendo no Paradise Club.
🌻🎈
VITOR 🎈
Felipe estava com uma cara satisfeita, certeza de que tinha arranjado um programa com alguma garota de lá, talvez até com aquela amiga da Luísa, a tal de Rebeca.
Samuel tinha sumido por uma meia com o Miguel, mas não disse nada sobre isso. Estranhei o fato de ambos estarem arrumados, lábios normais, cabelos ajeitados. Para o Samuel isso era aceitável, mas quanto ao Miguel eu já não sabia. Não iria questionar nada, afinal era a sua intimidade.
Nós três estávamos no carro indo para o apartamento do Felipe, eu estava morando lá por um tempo e Samuel decidiu que iria dormir no sofá para não ter que dirigir mais 40 minutos até a sua casa. No rádio tocava a nova música da Avril Lavigne, Head above water, graças a Deus minha rainha estava de volta. Eu cantarola baixinho e batucava os dedos na minha perna no ritmo da música quando Felipe perguntou:
– E aí? Contratou a Luísa?
Fiquei aliviado por ele ter utilizado o termo "contratado" invés de "alugado".
Meu Deus, o que eu to pensando? Eu não deveria ficar aliviado, eu deveria achar normal.
Com toda a certeza aquela conversa com Lázaro me afetou muito e, infelizmente, de uma maneira negativa.
– Contratei.
– E como foi? – Samuel questionou se impulsionando para frente e ficando na ponta do banco detrás.
– Estressante. – Falei depois de um certo tempo.
– Por que estressante? – Felipe indagou intrigado.
– O cara é um babaca, mais até que o meu pai.
– Tem certeza? Porque acho difícil superarem seu pai. – Samuel comentou.
Olhei para ele através do retrovisor e percebi que estava quase dormindo sentado, eu sorri para a imagem adorável do meu amigo.
– Sim, eu tenho certeza. – Disse por fim. – Ele trata os funcionários como se fossem máquinas, sem coração, sem sentimentos, sem emoções...
– Detroid: Become Human. – Felipe falou e eu e Samuel o encaramos confusos. – É um vídeo game que se passa no ano de 2038 com androids por toda parte, até que um dia eles cansam do jeito que são tratados e começam uma revolução.
– E isso se encaixa no que estou contando porque... – Deixei a frase no ar.
– Porque existiam androids fabricados para serem usados como garotos e garotas de programa. – Explicou.
Felipe era viciado em vídeo games do tipo viciado mesmo, uma vez ele me contou que quase repetiu o segundo ano do ensino médio por falta e nota vermelha, já que inventava que estava doente para não ir à escola, ou matava aula na lan house ou quando aparecia, dormia durante as aulas. Ele teve sorte de os pais dele terem descoberto essas tramoias no terceiro bimestre e o fizeram estudar quatro horas por dia quando voltava da escola e assim conseguiu tirar 10 em quase todas as matérias no último bimestre.
– Não mostre esse jogo para a Luísa, é capaz de ela seguir o exemplo desses androids. – Falei sorrindo ao imaginar a ruiva colocando fogo no Paradise. – Se bem que não seria nada mal, aquele filho da puta merece.
– Isso que você tá dizendo é horrível, Vitor. – Samuel se pronunciou seguido de um bocejo. – Eles são pessoas tão legais, deveriam ser tratadas com respeito.
– Com "eles" ele quis dizer "ele". – Felipe cutucou piscando para mim que ri.
– Não entendi nem a piada e nem a graça. – Samuel falou corando.
– Tá escrito na sua testa em letras garrafais que você tá com uma quedinha pelo Miguel. – Felipe respondeu.
– Quem diz "quedinha" hoje em dia? – Perguntei para irrita-lo. – Felipe, seu velho, se diz "crush", eu acho.
– Ah, foda-se o termo, o que interessa é que o nosso amiguinho está gostando do Miguel. – Felipe falou com tom gozador.
–Você fica falando de mim, mas não fui eu que contratei uma acompanhante de luxo sem propósito nenhum. – Samuel retrucou.
– Ei, eu tenho um propósito, ajudar a Luísa a sair daquele inferno e estava pensando em ajudar o Miguel também, mas não tenho dinheiro suficiente. – Me defendi. – E outra não fui eu que fiquei falando mal do Paradise e das pessoas que trabalhavam lá, para logo depois me apaixonar por um garoto de programa.
– Eu não estou apaixonado por um garoto de programa! – Samuel praticamente gritou na minha orelha. – Nós somos apenas amigos, nem isso, somos só conhecidos!
– Se vocês são só conhecidos por que sumiram por um tempo? – Felipe acusou.
– Porque ele me disse que já estava a quase duas horas sem fazer nenhum programa e que, talvez, não cumpriria a meta dele e eu me senti culpado porque ele estava conversando comigo por todo aquele tempo! – Samuel esbravejou. – Então eu lhe paguei dois programas, mas não aconteceu nada.
Ficamos em silêncio, não sabia dizer se o Samuel não fez nada com o Miguel porque não quis, ou porque teve medo de se envolver com um garoto de programa ou por preconceito. Eu esperava que fosse a primeira opção.
– E pelo menos não fui eu que dormi enquanto transava! – Samuel falou depois de um tempo.
Agora, isso vai longe.
– Isso só aconteceu uma vez! – Felipe se defendeu. – Eu tinha acabado de chegar de viagem e tinha dirigido por mais de 4 horas! E não fui eu que quase desmaiei quando fui perder a virgindade!
– O Vitor furou todas as camisinhas dos pais dele quando era criança! – Samuel me acusou.
– Ei! Por que sempre sobra pra mim? Eu não te acusei de nada! –Falei lançando um olhar mortal para Samuel pelo retrovisor.
Felipe ria que se matava da história, parecia que podia bater o carro a qualquer momento.
– Isso não pode ser verdade. – Felipe disse limpando algumas lágrimas quando paramos no farol vermelho. – Me diz que isso que o Samuel disse é zoeira.
Eu o observei pelo canto dos olhos com uma cara emburrada. Felipe sorria de orelha a orelha.
– O Vicente é a prova viva dessa história. – respondi baixo e Felipe riu alto. – Ah, espera aí, eu só tinha uns 8 ou 9 anos e meus pais largaram as camisinhas na gaveta da estante que eu guardava os meus brinquedos, sei lá o que eu achei que fosse aquilo, só sei que eu furei com a espadinha do meu boneco de guerreiro romano e meses depois eu me tornei irmão mais velho.
Meus amigos riram e eu acabei por me juntar a eles.
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EntreVidas 🌙
Fiksi RemajaLuísa é uma garota de programa que odeia o que faz, ela entrou nessa vida pela necessidade, todos os dias espera se livrar do emprego, até que descobre que há algo muito errado com o clube em que trabalha. Vitor tem o emprego perfeito, a família per...