VITOR 🎈
– VITOR. – Alguém me chamava e balançava o meu ombro com delicadeza. – Vitor.
– Acho que ele não vai acordar. – Outra pessoa disse e identifiquei a voz do Felipe. – Ele passou a noite inteira nessa cadeira?
– Acho que sim, nós também acabamos caindo no sono. – Uma terceira pessoa respondeu, acho que era o Samuel.
– A coluna dele já era. – Uma quarta comentou e supus ser o Miguel pelo fato de ser uma voz masculina e fina. – Quando eu dormi, ele ainda estava acordado e já se passava das 2h00m.
– Vitor, acorda. – A primeira pessoa voltou a me chacoalhar, talvez fosse o Vicente.
Antes de abrir os olhos, fiz uma aposta comigo mesmo de quem as pessoas conversando.
Aos poucos fui abrindo os meus olhos e encontrei os verdes intensos do meu irmão me analisando minuciosamente. Olhei ao redor e vi Samuel, Felipe e Miguel me observando.
Pelo menos eu tinha ganhado a aposta.
– O que está acontecendo? – Perguntei me espreguiçando.
– Nós viemos revezar com vocês. – Felipe disse com um sorriso triste. – Achamos melhor vocês irem para casa, tomarem um banho, comerem alguma coisa e descansarem.
– Eu não preciso descansar, já dormi a noite inteira e também posso comer alguma coisa por aqui. – Rebati.
– Vitor, você passou a noite inteira nessa cadeira dura e eu vi que você ficou acordado até mais das 02h00m, não comeu nada desde ontem à tarde e está precisando de um banho, consigo sentir o seu CC daqui. – Miguel disse e fez com que eu soltasse uma risadinha. – Se você quiser cuidar da Luísa, é preciso que você esteja bem, se não o seu corpo não vai aguentar, vamos para casa.
Eu concordei e me levantei da cadeira, sentindo as minhas costas reclamarem da noite passada em uma cadeira desconfortável, acho que Miguel tinha razão, minha coluna já era. Juntei minhas coisas e me despedi do pessoal que estava ali.
– Que horas são? – Perguntei a Felipe antes de ir embora.
– 10h30m.
Luísa só tinha um pouco mais de 24 horas.
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Ao chegar em casa, fiz exatamente o que Felipe recomendou, tomei um banho longo e quente mesmo estando um calor infernal, precisava sentir meus músculos relaxarem e isso so seria possível com a água quente.
Quando sai do chuveiro, comi arroz, feijão, bife e salada que a Jade fez para nós que tínhamos voltado do hospital. Não sentia o gosto da comida, eu não prestava atenção ao que acontecia, minha mente só tinha foco em uma única coisa: Luísa.
Era a única coisa que passava em meus pensamentos, era a única coisa que meu cérebro filtrava: LuísaLuísaLuísaLuísaLuísa.
Depois de engolir a comida sem nem sentir o sabor, olhei para o relógio já marcava mais de meio dia, me deitei na cama e tentei relaxar, era incrível como eu estava cansado e como o meu corpo estava necessitando aquele colchão velho, eu tinha dormido por quase 10 horas, mas era como se não fechasse os olhos há centenas de anos.
Eu não consegui dormir, mas minhas pálpebras pesavam fazendo com que os meus olhos se mantivessem fechados. Meu corpo não correspondia a minha consciência, um queria se manter deitado para sempre, enquanto o outro me perturbava e queria que eu levantasse e retornasse ao hospital, mas decidi seguir o meu corpo e dormi por mais um tempinho.
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Quando acordei já era noite, comi um lanche de presunto e queijo e fui para o hospital.
Ao chegar no quarto, encontrei Rebeca sentada ao lado da cama. Toquei em seu ombro e sorri cansado.
– Onde estão os outros? – Perguntei.
– Foram comer alguma coisa na cafeteria.
– Pode ir lá com eles, eu fico aqui.
– Tem certeza?
Eu assenti e Rebeca me deixou a sós com Luísa.
23h00m.
Mais 12 horas e o que quer que fosse acontecer, aconteceria.
Peguei na mão da ruiva e estranhei seu toque, sempre tão quente, estava gelado como uma pedra de gelo. Passei a mão em seus cabelos bagunçados e acariciei o seu rosto delicado.
Luísa estava serena.
Parecia em paz, tranquila com tudo o que estava acontecendo, diferente de mim que estava com os nervos à flor da pele, prestes a explodir a qualquer momento de tanto estresse.
Eu estava a perdendo, mas não podia fazer nada, apenas observá-la se afastando de mim cada vez mais, apesar de que era isso que mais queria, mas aposto de que não foi dessa forma que imaginou fazer isso.
Senti uma lágrima morna escorrer pelo meu rosto e deixei que as demais viessem.
Eu estava com medo.
– Me desculpa. – Sussurrei como se fosse um segredo. – Eu devia ter te segurado, devia ter te dito tudo o que sinto naquele dia que te beijei ou quando fui até o apartamento alguns dias depois, devia ter insistido mais em você, mas fiquei tão confuso com o que tinha acontecido que não conseguia raciocinar direito, eu não sabia o que fazer, Luísa!
Eu fazia carinho em sua mão delicada que era tão antagônica a minha.
– Eu te amo, Luísa, não tenho a menor dúvida disso. – Confessei baixinho. – Eu amo quando você me zoa por gostar de músicas pop, amo o jeito que você sorri quando digo algo idiota, amo o carinho que você tem pela sua família, amo como você coloca seus amigos acima de si mesma, amo como sempre tem uma piadinha ácida, amo o seu lado misterioso, amo o seu lado vergonha alheia, amo o seu lado racional, amo quando fica envergonhada, mas principalmente amo tudo isso junto porque tudo isso é você. Eu sinto tanta falta dessas coisas, sabe?
Eu me sentia mais leve depois da confissão, mesmo que ela não tivesse ouvido, quando pus em palavras tudo o que vinha sentindo, me parecia mais real.
– Esses dias eu estive pensando em uma música que me fazia lembrar de você e a que escolhi você com toda a certeza a acharia clichê, mas saberia a letra, é meio velha, mas gosto muito dela, se chama Fluxo Perfeito do Strike, sabe qual é? – Eu conversava com Luísa como se ela estivesse ali me ouvindo e decidi cantar a música que havia falado, fechei os meus olhos e comecei a cantarolar:
"Não te ver é me encontrar imerso nesse mar de fel
Vou te levar pro céu, já que os opostos se atraem
E quando o fluxo é perfeito e vai girando feito carrossel
Se eu te levar pro céu, a noite não acaba mais"
Minha voz saía meio enferrujada, já não cantava há anos, na verdade, nunca tinha cantado na frente de ninguém, mas na frente da Luísa não sentia vergonha, não sabia se era por estar desacordada, ou por tamanha confiança que tinha nela.
"O que nos difere nos aproxima
Quando ela exerce teu poder é minha sina
Te contemplar até morrer
Ela aprecia um filme em boa companhia
Ser interessante é arte que ela domina"
Senti um apertão na minha mão e olhei para Luísa, ela continuava serena.
"Mantém a classe, equilíbrio, é fiel onde for
Sou um mero largado, que nunca endireito
Discreta pra beber, mas sabe se portar
Só dou vexame, saio sem pagar"
– E ela me faz tão bem.
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EntreVidas 🌙
Teen FictionLuísa é uma garota de programa que odeia o que faz, ela entrou nessa vida pela necessidade, todos os dias espera se livrar do emprego, até que descobre que há algo muito errado com o clube em que trabalha. Vitor tem o emprego perfeito, a família per...