Capítulo 17 🌙

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VITOR 🎈

EU NÃO CONSEGUI DORMIR A NOITE INTEIRA. A conversa com Thalia não me deixava, não importava o que eu fizesse, as frases "Eu estou grávida" e "Eu não sei quem é o pai" martelavam na minha cabeça.

A possibilidade de eu ser o pai do filho da Thalia me assustava, a minha vida seria muito diferente, mas é claro que eu não voltaria com ela, tentaria manter uma relação estável para que a criança não crescesse em um lar turbulento.

Porém a possibilidade de não ser o pai era bem dolorida, porque aí sim cairia a ficha de que fui traído e que os filhos da puta até tiveram um filho juntos, mas a minha vida continuaria a mesma e eu não teria que aturar a Thalia e suas tentativas de reconciliação.

Além disso tudo, uma perguntava me perturbava: se o filho for do André e eu não tivesse descoberto sobre o caso dos dois, Thalia mentiria na cara dura que a criança era minha?

Minha vontade era de desaparecer e voltar apenas quando tudo tivesse resolvido, quando eu tivesse certeza de que o filho é meu ou não, mas a vida não é assim, eu até poderia tirar férias por um mês e comprar uma passagem para um país qualquer, mas a culpa de largar tudo não me deixaria em paz e a dúvida ainda me perseguiria.

Sensatez é uma merda.

Me troquei e fui até a cozinha tomar café, Felipe estava sentado no balcão tomando seu tradicional café com leite e assistindo o Bom dia, São Paulo como era de praxe de toda manhã.

– Bom dia. – Me desejou, enquanto eu despejava o café na xícara.

– Bom dia.

Eu me sentei ao seu lado e tomei um gole do líquido amargo. Felipe estava inquieto e parecia querer dizer alguma coisa, mas não tinha coragem ou jeito de perguntar. Sua perna balançava embaixo do balcão e aquilo estava me irritando.

– Tá, tudo bem, o que está acontecendo? – Perguntei e coloquei a mão no joelho de Felipe para que ele parasse com aquela inquietação.

– Você foi correr no Ibirapuera ontem.

– E...?

– E você só vai correr no Ibirapuera quando alguma coisa está te incomodando muito e você não sabe o que fazer.

Felipe tinha razão, eu nunca ia correr, mas sempre que precisava pensar, precisava esquecer de uma merda muito grande, eu ia até o parque e quase destruía os meus joelhos de tanto correr e o dia anterior não tinha sido diferente, passei mais de duas horas correndo pelo Ibirapuera.

– Você sabe que pode me contar qualquer coisa, não é? – Felipe falou chamando a minha atenção.

Olhei para o meu amigo que parecia realmente preocupado comigo, seus olhos azuis me imploravam por uma explicação. Abaixei minha cabeça e apertei a xícara em minhas mãos.

– A Thalia está grávida. – Eu disse sem olha-lo.

– Mas não era você que sempre quis ter filhos? – Felipe perguntou perdido.

– Sim, mas eu sempre quis ter filhos sabendo que a criança me pertence, mas ela não sabe quem é o pai, se sou eu ou se é o André.

– Mas que caralho! – Felipe se jogou conta o encosto do banquinho em choque. – O que você vai fazer agora?

– Eu não sei. – Respondi encarando o meu café. – Eu estou tão confuso, ao mesmo tempo que fico feliz com as chances de ser pai, também fico chateado caso o filho seja do André. Eu quero e não quero que seja meu, sabe? Quero que seja porque eu sempre quis ter um pirralho pra poder brincar, dar carinho, amor e saber o que é sentir esse "amor maior que si", mas eu não quero porque eu já não amo mais a Thalia, eu sei que a gente vai brigar toda hora, eu não vou poder meu filho o tempo inteiro e nem a hora que eu quiser e não, voltar com a Thalia não é uma opção.

– Vocês vão exame de DNA?

– Com certeza, mesmo que a Thalia fique ofendida, eu quero e vou fazer esse exame. Você acredita que ela queria viver um lance estilo Dona Flor e seus dois maridos?

Felipe soltou uma risada alta e pôs a mão no meu ombro.

– Claro que eu acredito, eu sempre achei a Thalia bem maluquinha, mas e você? Quer transformar a sua vida em uma estória do Jorge Amado?

– Não, eu não quero e acho que não teria nervos suficientes para viver tantas emoções. – Eu disse sorrindo com a comparação feita pelo meu amigo. – Eu gosto do jeito que estou vivendo agora, eu gosto da tranquilidade e da estabilidade, mas eu preciso arranjar um lugar para Thalia ficar, não posso simplesmente larga-la na rua grávida do meu talvez futuro filho.

– Você não vai deixa-la ficar no seu apartamento?

– Você acha que eu devo? – Perguntei com a esperança de que meu amigo ilumine as minhas ideias.

– Sinceramente? Não sei, afinal ela pagou metade, não é? Mas também existe a possibilidade do filho não ser seu... – Felipe falou me deixando ainda mais confuso. – Faz o seguinte, meu irmão tem um apartamento para alugar na Vila Mariana, eu converso com ele e aí a Thalia aluga e você volta para o seu apartamento.

Eu dei um sorriso largo para ele e o abraço meio de lado.

– Valeu, Felipe, você ajudou muito. – Eu disse me soltando dele.

Eu peguei o meu celular e entrei no Whatsapp procurando telefone da minha ex-noiva. Quando o achei, comecei a digitar.

Vitor:
"Oi, sou eu
O Felipe disse que o irmão dele tem um apartamento para alugar na Vila Mariana
Ele vai ver com o irmão e vai me avisar
Quando eu tiver noticias, te aviso"

As mensagens foram visualizadas, mas não tive nenhuma resposta, eu achei até melhor. Sai do aplicativo e bloqueei o celular. Felipe se levantou e colocou sua xícara dentro da pia, eu estava terminado meu café quando meu celular apitou. Meu amigo praticamente se jogou sobre minhas costas para poder ver quem era.

Na tela mostrava o nome da Luísa e seis mensagens não lidas. Bati a mão testa, enquanto desbloqueava o aparelho. Com toda a confusão da Thalia, eu tinha até me esquecido de que ela ia ver o preço da acompanhante de luxo.

Luísa:
"Oi, td bem?
Desculpa te mandar mensagem a essa hora, mas depois eu ia acabar esquecendo
Seguinte, eu falei com a minha gerente sobre um cliente me querer como acompanhante de luxo
Ela me perguntou o seu nome e eu dei
Podia? Foi mal n ter perguntado antes
Mas enfim, ela sabia bastante sobre a sua família e disse que vc teria que ir até lá para negociar com o meu chefe"

– Você vai mesmo contrata-la? – Felipe perguntou sobre o meu ombro.

– Vou, ela não suporta essa vida de garota de programa e eu vou ajuda-la a sair dela. – Respondi ao loiro, relendo as mensagens – E se pudesse faria o mesmo com aquele outro garoto, o Miguel, mas não tenho dinheiro o suficiente.

– Você virou a Porta da Esperança por acaso? Porque se for, eu quero entrar na fila.

Eu empurrei a cabeça do Felipe do meu ombro, enquanto nós dois riamos. Meu amigo se sentou no banquinho do meu lado e o puxou para mais perto de mim.

Vitor:
"Oi, eu to bem e vc?
Sem problemas, não precisava mentir sobre o meu nome, n tenho nada a esconder
Posso ir hj a noite conversar com o seu chefe, se td bem pra vc, claro"

Segundos depois a resposta chegou.

Luísa:
"Então, vc n pode ir hj
Eu disse que nós íamos nos encontrar para eu te dizer que vc tem que ir até lá
Então, é melhor vc ir amanha"

Vitor:
"Pq vc disse que ia me encontrar hj?"

Luísa:
"Pq eu não podia ter te dado o meu número, eu quebrei uma das regras mais importantes"

Vitor:
"Entendi, então eu estou contratando uma delinquente?"

Luísa:
"Não, vc talvez contrate uma garota que odeia seguir regras idiotas 😉"

Vitor:
"Hahahaha
Você é tipo uma boa menina má?"

Luísa:
"Ah, Vitor, sempre desconfie de uma boa menina
Vc nunca sabe quando se meterá em encrenca por causa dela"

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