VITOR 🎈
– MAS QUE PORRA É ESSA, VITOR?
Eu tirei os olhos do computador e olhei para uma Thalia irada, em suas mãos tinha um papel um pouco amassado.
– Fala Vitor!
– O que você quer que eu diga? – Perguntei fingindo falsa inocência.
– Que porra de papel é esse? – Perguntou entredentes e jogou a folha sobre a minha mesa.
Eu a peguei e li.
– É um aviso jurídico avisando que você tem um mês para sair do meu apartamento. – Expliquei simplório. – Está escrito aqui, é só ler.
– Eu não vou sair do nosso apartamento. – Thalia disse dando ênfase no "nosso".
– Sim, você vai sair do meu apartamento. – falei dando ênfase na palavra "meu".
– Você não pode fazer isso comigo!
– Só não posso, como já estou fazendo. – Falei e me levantei dando a volta na mesa. – Você também não se preocupou comigo quando me traiu.
– Mas eu paguei metade daquela merda, eu tanto direitos quanto você!
Eu respirei fundo me encostando na mesa, e olhei cuidadoso para Thalia, ela estava muito irritada, parecia que ia me matar a qualquer momento, mas eu estava tanto com o coração quanto com o orgulho ferido e a única coisa que passava pela minha cabeça era fazer Thalia pagar por ter me feito de otário. Durante os almoços em família de domingo, eu perguntava a Vinicius se tinha alguma forma de pegar o apartamento de volta e juntos arrumamos um jeito de eu voltar para casa. Ele me avisou que já tinha mandado o aviso para a Thalia e eu imaginei que ela viria atrás de mim tirar satisfação.
– Thalia, me escuta, quando compramos o apartamento, você achou melhor deixa-lo no meu nome, então teoricamente, ele me pertence. – Expliquei calmo.
– Mas eu paguei metade, isso não significa nada? E nós éramos noivos! Moramos juntos por quase 5 anos!
– Mas não chegamos a morar juntos nem dez meses naquele apartamento, se estivéssemos juntos por um ano, aí você teria direito a 50% dele.
Senti algo acertando o lado esquerdo do meu rosto, eu não reagi, apenas a encarei com a sobrancelha erguida esperando a sua explicação.
– Eu te odeio, Vitor! Por que você está fazendo isso comigo? – Thalia perguntou com os olhos cheios de lágrimas.
– Porque você fez pior do que isso, Thalia, você matou uma parte de mim. – Respondi frio.
– Onde eu vou morar? Você vai simplesmente me jogar no meio da rua? – Ela perguntou ignorando a minha resposta.
Thalia não estava preocupada com os meus sentimentos, ela não se preocupava com o quanto tinha me machucado, ela só se importava consigo mesma.
Se essa conversa tivesse acontecido no inicio do mês anterior, eu teria me deixado levar pelo seu choro e a deixaria ficar com o apartamento, mas agora, aquilo já não fazia mais efeito algum sobre mim. Suas lágrimas eram sinônimo de falsidade para mim, sua irritação era frescura, sua dor já não me significava nada.
– Por que não vai morar com o André? Vocês me pareceram o casal perfeito naquele dia. – Falei irônico.
– Vitor, você não está entendendo a gravidade da situação. – A loira disse séria e eu a olhei confuso. – Eu estou grávida.
A enorme sala pareceu ser minúscula naquele momento.
🌻🎈
LUÍSA 🌻
A noite passou rápido e com pouco movimento, mas consegui atingir a minha meta diária, mas aquela não era uma segunda-feira comum, naquele dia eu decidi conversar com a Jaqueline sobre a proposta de Vitor. O único que sabia sobre minha talvez futura conversa com a gerente era o Miguel e ele tinha me dado o maior apoio para aceitar.
Eu subia com Laura e Miguel para a nono andar, os dois conversavam sobre qualquer coisa que eu não conseguia prestar atenção, apenas sorria vez ou outra. O Vitor não me deixava em paz, não que ele estivesse me perguntando toda hora se eu já falei com o meu chefe, mas nossa conversa sempre vinha a minha mente ou a conversa que eu tive com Miguel sobre ele. Fazia dias que não tinha uma noite de sono descente, ou melhor, uma manhã de sono, minhas olheiras estavam mais fundas do que o normal e o meu raciocínio extremamente lento, já não conseguia processar quase nada ao meu redor.
Quando chegamos no andar, Miguel entrou na sala da Jaqueline e logo saiu contando o seu dinheiro. Laura foi até a porta, mas antes de abri-la, se virou para mim e franziu o cenho.
– Você não vem? – Me perguntou apontando para a sala.
– Pode ir, eu vou depois. – Respondi separando o dinheiro que teria que dar.
– Mas a gente sempre fez isso juntas. – Laura disse e cruzou os braços.
Eu olhei para Miguel com o canto dos olhos, implorando para que ele me ajudasse, mas isso não aconteceu porque meu amigo não percebeu ou preferiu não se meter naquela conversa que com certeza se tornaria uma discussão mais pra frente.
– É que eu preciso ir ao banheiro, depois eu entro. – Menti, mas percebi que não fui muito convincente porque Laura continuou a me encarar com aqueles olhos acusatórios e penetrantes, então me levantei indo ao banheiro daquele andar.
Eu a ouvi bufar e a porta sendo aberta. Enrolei um pouco no lavabo e sai. Me sentei ao lado de Miguel e deitei a minha cabeça em seu ombro.
– E aí? Já decidiu o que vai fazer? – Ele perguntou em tom baixo para apenas eu ouvir.
Olhei ao redor e não tinha nenhum sinal de vida além de nós dois naquele corredor.
– Eu vou falar com a Jaqueline que um cliente está interessado em mim como acompanhante de luxo. – Respondi no mesmo tom.
– Então você decidiu aceitar a proposta do príncipe encantado?
– Eu não aceitei nada, apenas estou cumprindo a minha parte do acordo.
Laura abriu a porta e não parecia nada feliz e eu sabia que era por minha causa, mas não estava com cabeça para pensar em seu drama naquele momento.
– Boa sorte. – Miguel me desejou em um sussurro e apertou a minha mão que estava em seu colo.
Eu agradeci e entrei na sala fechando a porta atrás de mim. Me sentei na cadeira em frente a Jaqueline e fiz o mesmo ritual de todos os dias: entreguei o dinheiro, ela contou, me entregou a minha parte e guardou o restante.
– Bem, é isso senhorita Luísa, obrigada e até amanhã. – Jaqueline disse escrevendo alguma coisa na minha ficha.
– Senhora Jaqueline, eu tenho uma coisa para dizer. – Falei devagar.
Jaqueline estava ocupada com o computador e não me deu muita atenção, acho até que nem sabia o que eu tinha dito.
– Pode falar, querida.
"Querida", odiava aquela palavra, odiava quando as pessoas me chamavam assim, parecia tão falso que me dava vontade de vomitar.
Esperei para que a minha gerente me olhasse e disse:
– Um cliente me procurou para ser sua acompanhante de luxo.
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EntreVidas 🌙
Teen FictionLuísa é uma garota de programa que odeia o que faz, ela entrou nessa vida pela necessidade, todos os dias espera se livrar do emprego, até que descobre que há algo muito errado com o clube em que trabalha. Vitor tem o emprego perfeito, a família per...