VITOR 🎈
EM MENOS DE 5 MINUTOS NA 25 DE MARÇO, EU JÁ SENTI ÓDIO DO LUGAR.
Aquilo parecia o inferno na Terra, nunca tinha visto tanta gente junta em toda a minha vida, acho que nem o inferno tinha tanta gente!
– Como se sentiu? – Luísa me perguntou quando estávamos voltando para a estação e ela encarava a tela do celular.
– Uma sardinha em uma lata.
– Ah, meu anjo, sardinha você vai se sentir agora que vamos pegar o metrô em horário de pico. – Ela comentou com um sorriso que parecia dizer "Você vai se foder muito", enquanto guardava o celular na bolsa. – Mas o que você achou da 25 de Março? Apenas lotada não vale, porque isso todo mundo sabe.
– Acho que nem a China tem tanta gente.
Luísa riu e nós descemos pela escada rolante para pegar o metrô até a casa dela. Me encostei em um dos lados da escada rolante e a ruiva me puxou para o lado oposto quando um homem de terno desceu a escada com pressa.
– Você nunca ouviu "Deixe a esquerda livre"? – Luísa perguntou olhando para cima, já que ela estava no degrau de baixo.
– Esse negocio de se manter a direita existe mesmo? – Perguntei, surpreso, em resposta.
– Mas é claro que existe! As pessoas que não estão com pressa sempre precisam ficar a direita das escadas para deixar o caminho livre para o pessoal apressado, e se travar a escada, você receberá tanta praga que é capaz de cair morto antes mesmo de chegar no vagão do trem. Você tem certeza de que é paulista?
Fiz que sim com a cabeça meio cabisbaixo por não entender nada do mundo fora da minha bolha. Sempre tive uma vida confortável, peguei pouquíssimas vezes o metrô ou o trem, ônibus eu conseguia contar nos dedos as vezes que andei, não me sabia me portar em transportes públicos e Luísa tinha toda a calma do mundo para me explicar como esse universo funcionava.
Entramos no vagão e mesmo sendo um das pontas (Luísa disse que esses são os mais vazios) ele estava lotado, a ruiva tinha razão, agora eu era literalmente uma sardinha em uma lata.
Eu consegui me segurar no teto do metrô, mas Luísa não alcançava com os seus 1,60m de altura, então estendi o meu braço e a puxei para mim, ela me encarou confusa, mas logo entendeu que era para me abraçar e não cair sentada no chão.
Luísa puxou sua bolsa para a frente do seu corpo, passou seus braços pela minha cintura e aconchegou sua cabeça em meu peito. Passei o meu braço livre pelos seus ombros para segura-la. Eu sabia que ela conseguia ouvir meus batimentos cardíacos e sabia também que o meu estupido coração estava acelerado por conta da aproximação da ruiva. Ainda bem que o amigo lá embaixo resolveu não dar as caras, se não seria muito constrangedor.
Quem olhasse para nós pensaria que éramos um casal perdidamente apaixonado, quem me dera eles estivessem certos.
🎈
Um pouco depois de chegar no apartamento da Luísa, meu celular vibrou avisando a chegada de uma nova notificação.
Tinha recebido várias ao longo do dia, mas tinha as ignorado porque não estava muito afim de ler as milhares de mensagens copiadas de cartões de aniversário da internet, mas resolvi olhar pelo menos quem tinha me mandado a mensagem. Era o Samuel e o começo tinha me instigado a ler o restante da mensagem.
Sam 👻:
"Seu filho da puta, pq não me contou que ia folgar justo hj que é o seu aniversário?
Se vc tivesse a noção da vontade que eu to de te bater, vc não me responderia pelo próximo mês
Mas não vou te bater
Vou ser bonzinho e vou despencar até o seu apartamento para poder te dar um parabéns decente
Se vc não estiver lá, aí sim eu vou te bater até vc ficar inconsciente, vou vender um de seus rins e te castrar"Respondi que estava na casa da Luísa, então demoraria mais ou menos meia hora para chegar em casa, sua resposta foi um emoji de faca e um de arminha.
– Eu vou ter que voltar pra casa. – Anunciei para Luísa que estava saindo do banheiro com o cabelo molhado. – O Samuel está indo pra lá pra me ver e você vem comigo.
– E eu iria porque...
– Porque é o meu aniversário e você é obrigada a fazer tudo o que eu mandar.
Luísa riu e concordou em ir, só teria que terminar de se arrumar.
🎈
Chegamos ao meu apartamento e Luísa estava estranha, ela parecia ansiosa com algo e estava muito mais alegre do que o normal, ela não parava de falar por nem um minuto sequer, logo a Luísa que gostava de apreciar as músicas tocadas no rádio e admirar a vista pela janela do carro.
Destranquei a porta do meu apartamento e acendi as luzes da sala.
– SURPRESA!!!!!!!!
– AAAAAAAA, PUTA QUE PARIU, QUE SUSTO! – Gritei sem perceber o que estava acontecendo.
Olhei em volta ainda me recuperando do susto e a minha sala estava toda decorada com bexigas de gás hélio, o chão estava forrado com confete colorido, a mesa que ficava na cozinha estava na sala com um bolo no centro e vários docinhos em volta, os meus amigos e irmãos estavam com um chapeuzinho de festa ridículo e...
Aquilo no meu sofá é um gato e um cachorro?
Era uma festa surpresa para mim?
Não, não podia ser, ninguém nunca tinha feito isso por mim.
Voltei a minha atenção para a ruiva ainda na porta com um sorriso largo e satisfeito, podia apostar que a ideia tinha sido toda dela.
Eu estava tão feliz que não sabia o que fazer, não sabia o que dizer, só queria poder abraçá-los e dizer o quão fodas eles eram.
– E então? Nós vamos ficar aqui um encarando ao outro ou o aniversariante vai dizer alguma coisa? – Miguel perguntou impulsionando o meu cérebro a se lembrar o que são palavras.
– Muito obrigado, sério, ninguém nunca tinha feito uma coisa dessas por mim. – Falei com um sorriso que poderia rasgar o meu rosto. – Mas como vocês entraram aqui? E por que tem um gato e um cachorro no meu sofá?
– Você me deu uma cópia da chave do apartamento, lembra? Ainda não estou morando aqui oficialmente, mas já tenho as chaves para começar a trazer as minhas coisas. – Vicente respondeu a minha primeira pergunta.
– E você conhece bem esse gato, é o Mingau! Eu não poderia deixá-lo de fora dessa, ele te ama! Acho que até mais do que a mim que dou comida, isso até me irrita um pouco por sinal. – Samuel respondeu uma parte da segunda pergunta.
– E nem o pai e nem a mãe querem ficar com o Beethoven e como a Amanda é alérgica a cachorros e foi você que deu ele para o Vicente quando ele fez 15 anos... – Vinicius terminou de explicar.
– Eu não sabia que o Vicente e o Beethoven eram um combo. – Comentei olhando para o São Bernardo babão deitado no meu sofá. – Tomara que você não me faça ser expulso daqui. – Falei para o cachorro fazendo carinho em sua cabeça.
– Tá, podemos comer agora? – Felipe perguntou apontando com a cabeça para a cozinha, onde provavelmente estavam as comidas salgadas.
Eu dei risada e permiti que começassem a comer. As pessoas me deram parabéns e presentes e foram atrás de pratinhos descartáveis para poderem comer o que quer que fosse o que estava na cozinha.
Ao longo da noite descobri que sim, a ideia tinha sido da Luísa, ela pensou nisso logo depois da noite do dia primeiro, em que liguei chorando como uma criança para ela contando tudo o que tinha acontecido. No dia seguinte, ela ligou para o Miguel que achou a ideia "Mais foda do que mil caralhos juntos" (palavras dele), então entrou em contato com o Samuel e o Felipe que se responsabilizaram em contar para os meus irmãos e conseguir comida. O pessoal do Paradise ficou responsável pela decoração e pelas musicas (que eram muito boas por sinal) e a Luísa só teve que me distrair o dia inteiro.
Era um plano perfeito.
Não tinha muita gente no meu aniversário, mas não precisava de mais ninguém porque a minha família estava ali.
Vinicius, Vicente, Amanda, Samuel, Felipe, Luísa, Miguel, Laura, Marina, Rebeca e Igor.
Esses eram os meus amigos, minha família que escolhi que e que me escolheram e eu os amava mais do que mil caralhos juntos.
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EntreVidas 🌙
Teen FictionLuísa é uma garota de programa que odeia o que faz, ela entrou nessa vida pela necessidade, todos os dias espera se livrar do emprego, até que descobre que há algo muito errado com o clube em que trabalha. Vitor tem o emprego perfeito, a família per...