EntreVidas 🌙

Capítulo 8 🌙

VITOR 🎈

– DIVORCIO? – Questionei em choque.

– Sim, Vitor, divorcio. – Meu pai disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Você desistiu do seu noivado e eu estou desistindo desse casamento.

Estava tonto, tinha a sensação de que colocaria tudo o que eu tinha comido para fora a qualquer momento. A minha família sempre fora um exemplo de perfeição: Um pai médico, dono de um dos melhores hospitais de São Paulo, uma mãe que trabalhava fora, mas que ainda era zelosa com o seu lar e três filhos "perfeitos".

– Mas por quê? – Vicente perguntou. – Aconteceu alguma coisa?

– Não, querido, não aconteceu nada. – Minha mãe disse ao meu lado. – Apenas achamos melhor...

– Beatriz, já chega de mentiras, eles já estão bem grandinhos. – Meu pai a interrompeu. – Seguinte, meninos, eu e a mãe de vocês nunca quisemos nos casar, foi tudo puramente por negócios.

– Negócios? – Vinicius se pronunciou.

– Sim, negócios, o avô de vocês precisava de alguém para assumir o posto de líder do corpo médico do hospital já que nenhum dos seus dois filhos quis fazer medicina, então ele me propôs que eu me casasse com a mãe de vocês e tomaria conta de tudo ao lado do Benício, ele no administrativo e eu no médico. – Meu pai falava como se estivesse explicando uma partida de futebol.

Mas as nossas vidas não eram uma simples partida de futebol. Eu, meus irmãos e minha mãe não éramos jogadores que podiam ser vendidos quando já não condiziam com as exigências do clube. Nós éramos a sua familia.

– Então, nós somos apenas negócios para você? – Vinicius indagou parecendo tão machucado quanto eu.

– Não, vocês foram um bônus, aliás seriam um bônus melhor se tivessem feito medicina, espero que você, Vicente, não me decepcione. – Meu pai respondeu.

– Sinto em já te decepcionar, papai, porque eu quero fazer arquitetura. – Vicente retrucou com a voz carregada de mágoa e dizendo a palavra "papai" com nojo.

– Por que decidiram se divorciar agora? – Perguntei.

– Porque seu avô nos mostrou o testamento que diz que o pai de vocês tem direito aos meus 50% do hospital, então eu já não sou mais útil. – Minha mãe respondeu irritada.

– Quando o senhor vai sair de casa? – Perguntei irritado.

– Quem disse que sou eu quem vai sair? – Meu pai questionou em resposta.

– Eu disse. – Vinicius respondeu. – Até onde eu sei esta casa foi comprada pelo nosso avô e colocada no nome da mamãe, estou certo? – Meus pais concordaram.– Então a lei está do lado dela, o senhor sai.

– Tudo bem, eu saio, mas só vou sair depois das festas de final de ano, achamos que vocês mereciam um último Natal e um último Ano Novo em família.

Meu pai se levantou e saiu da sala de jantar, minha mãe foi atrás dele. Vinicius me encarou e depois a Vicente, nós dois sabíamos o que aquilo queria dizer, então nos levantamos e nos abraçamos.

– Temos apenas quatro meses como uma família. – Vicente lamentou.

– Não, temos a vida inteira porque enquanto nós três tivemos uns aos outros, ainda seremos uma família. – Vinicius disse apertando o abraço.

Então eu percebi que amava os meus irmãos mais do que tudo.

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LUÍSA 🌻