Capítulo 52 🌙

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LUÍSA 🌻

EU NÃO TINHA IDO VISITAR O MEU PAI E OS MEUS IRMÃOS NO FINAL DE SEMANA DEPOIS DO CARNAVAL.

Ele também não tinha me procurado.

Eu estava com medo.

Tinha certeza de que a Mirela já tinha destruído todo o amor e carinho que o meu pai poderia ter por mim, tinha certeza de que ela tinha até aumentado a história toda.

Evitei aquele dia o máximo possível, mas a insistência da Clara em ir para casa para almoçarmos todos juntos como a minha família sempre fez, me amoleceu.

Ao longo da semana, conversei com o Miguel e ele me garantiu de que se algo ruim acontecesse, eu já tinha uma casa para ir, um ombro para chorar e um irmão para me dar amor e carinho.

Quando cheguei na estação da Mooca, no domingo de manhã, não encontrei o meu pai a minha espera como toda semana. Caminhei os 15 minutos até a vila onde morei por anos da minha vida, logo que entrei percebi algumas vizinhas olhando para mim e cochichando, com toda a certeza, elas já sabiam.

Destranquei o portãozinho baixo e caminhei a passos lentos até a porta de madeira gasta. Com a mão trêmula encaixei a chave na fechadura, respirei fundo, virei a chave e coloquei um sorriso falso no rosto, aquele sorriso mecânico que já tinha dado tantas vezes, mas com motivos diferentes.

Quando entrei em casa, encontrei o meu pai enterrado na poltrona com uma expressão séria para a televisão, Clara estava sentada à mesa fazendo um trabalho da faculdade e Davi estava deitado de bruços no chão desenhando alguma coisa.

– Oi, cheguei. – Falei tentado disfarçar o nervosismo em minha voz.

– Oi, Lu. – Clara me cumprimentou e veio em minha direção para me abraçar. – Tá tudo bem? – Sussurrou em meu ouvido e não sabia se era por conta do afogamento ou se ela já sabia de alguma coisa.

Apostei na primeira opção.

– Estou, pode ficar tranquila.

Davi veio em minha direção e permitiu que  eu desse um abraço rápido e um beijo em sua bochecha.

Meu pai não se mexeu, continuou na mesma posição, apenas me olhou de soslaio.

– Clara, voce não quer terminar isso lá em cima? – Meu pai disse se levantando, mas ainda sem me olhar nos olhos. – Davi, não quer treinar um pouquinho de piano?

Meus irmãos desconfiaram, mas concordaram.

– Ele anda estranho desde quinta passada. – Minha irmã sussurrou para mim antes de subir a escada.

Ficamos apenas eu e o meu pai, cara a cara.

Não me lembro de nenhum momento em que tenha tido medo do meu pai, ele sempre foi uma pessoa tão calma e compreensível, sempre soube que podia contar qualquer coisa para ele, mas quando comecei a trabalhar no Paradise, alguma coisa dentro de mim me disse que era melhor não lhe contar isso para evitar uma decepção.

– Oi, pai como você...

Meu pai levantou uma das mãos com a palma virada para mim, pedindo que eu me calasse.

– Só abra a boca se for para me dizer que você não é uma puta. – Ele disse ríspido. – Só me diga que o que a sua irmã me disse não é verdade.

O meu silêncio foi a resposta que ele temia.

– Puta, Luísa? Você é a porra de uma puta? – Meu pai aumentou alguns tons da sua voz.

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