Nona Anotação

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A simplória afirmação de que quando não podemos possuir algo, isso somente nos faz desejá-lo ainda mais, me causa constantes arrepios... Em alguns lugares, escutamos que o ser humano nunca alcançará a verdadeira felicidade, pois sempre que conquistamos algo que deveria teoricamente nos satisfazer, logo construímos outros objetivos em nossas mentes, outras conquistas à alcançar, sejam elas algo como um sentimento superficial para o conforto próprio, indeterminadas quantias em dinheiro, bens materiais, ou até mesmo em algo subjetivo como o amor... Estamos em constante mudança até o dia de nosso último suspiro.

"Você sempre vai querer com mais intensidade aquilo que não pode ter." – 6ª Lei de Newton.

Eu, pessoalmente, não sei onde me encontro neste fato ou teoria, mas posso dizer que possuo exatamente o que eu desejava há anos...

...

C? A sua mão passou sobre a minha testa sem que eu a notasse se aproximando de mim. A sempre foi silenciosa demais. Às vezes eu realmente queria saber o que se passa na sua cabeça... Declarou com certa preocupação, logo um sorriso entreaberto se formou em meus lábios e ela me mostrou uma careta. O que foi?

Eu estava refletindo sobre algo.

E sobre o que você estava refletindo? Subitamente, ela usou o apoio da poltrona e sentou-se sobre mim colocando uma perna de cada lado do meu corpo. De frente para mim, eu me pegava admirando parte de sua silhueta, me segurando para não a tocar da forma que eu gostaria.

Era algo relacionado a mim...

A você? Ela se inclinou sobre mim, se aproximando ainda mais enquanto trazia o aroma viciante de sua pele próximo a mim.

E a você. Curiosidade tomou conta do seu semblante.

Eu realmente queria tê-la tomado para mim com intensidade naquele instante, caindo sobre ela ao chão ali mesmo, tão sedento quanto um animal para puni-la pela forma despretensiosa como constantemente me provoca sem perceber, sem dar a mínima para as possíveis consequências... A sempre me provocou um desejo sem igual e isso nunca mudou.

O que acha de sairmos hoje?

Ela cruzou os braços abaixo dos seios e ergueu uma das sobrancelhas enquanto me encarava, sempre desconfiada como uma gata de rua, mas relaxou para uma risada breve.

Já é noite e está nevando, por acaso no meio das suas reflexões você andou bebendo? Me lembro de ter pedido para você parar um pouco.

Quem sabe? Dei de ombros. Eu vou pegar o seu casaco, afinal, caminhar às vezes faz bem. O frio acalma os nervos, sabia? Fiz com que ela ficasse de pé e me levantei.

Quais nervos?

É melhor você não saber quais. Ela riu.

Você é maluco.

Sim. E não me falta nada.

Sr. C

VERDADE ROUBADAOnde histórias criam vida. Descubra agora