Oitava Anotação

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Podemos dizer que nos conhecemos de uma maneira um tanto quanto incomum...

Há muitos anos, mamãe costumava me contar que o destino poderia ser cruel conosco, mas que em seus pequenos intervalos, onde deixava de lado a sua tamanha maldade, ele somente adorava brincar com as nossas vidas. Somos apenas marionetes e as nossas linhas são invisíveis.

Agora, ela deve estar rindo de mim em algum lugar e pensando: "Onde essa garota foi se meter?", e com razão, mas isso se ela ao menos pensasse em mim.

Nos conhecemos em um dia amarelo. Um dia tão normal quanto outro qualquer, que eu mal sabia dizer se eu realmente estava acordada. Aquele era um dia amarelo, mas ainda assim eu estava coberta por negro. Mamãe chorava tanto, que mal notava a minha presença ao seu lado. Eu era como a sua sombra, sempre visível, mas constantemente ignorada e encurvada, no entanto, isso não era algo tão incomum.

Bem, talvez o destino não seja tão divertido quando se trata de tirar entes queridos de nossas vidas como se estivessem arrancando membros de nossos corpos com violência.

"Queridos"...

Sem saber ao certo o que me provocou, eu fui ao parque naquele mesmo dia, o parque que acabou se tornando o "nosso parque", mas algo negro me seguia, então subi em uma árvore a fim de encontrar abrigo, ou talvez o consolo que tanto me faltava, mas jamais saberei o que eu buscava ali. Aquela árvore era a minha favorita desde os seis anos de idade e, coincidentemente, ela se tornava perfeita para alguém minúscula como eu subir, mas aquele era um dia amarelo, e eu caí em meio ao sono sobre ela.

Eu nunca havia adormecido com tranquilidade dentro de casa, então apagar tão facilmente em um local público ainda faz com que eu questione o que eu realmente sentia naquele dia, no entanto, ainda que eu tenha pegado no sono facilidade, eu posso dizer que não foi uma experiência muito agradável, pois eu acabei caindo da árvore. Caí, mas eu não me machuquei tão gravemente, visto que pousei sobre um homem que, assim como eu, dormia abaixo da árvore.

Pode até se parecer com um lindo e estranho acontecimento de algum filme de comédia romântica, mas as suas primeiras palavras direcionadas a mim não foram um "Você está bem?", ou uma cantada idiota como "Você é um anjo que caiu do céu?", mas sim um belíssimo de um xingamento atrás do outro. Eu o havia machucado.

De onde você veio...?! Droga...! Ele me questionava com agressividade, se movendo bruscamente para o lado e se afastando de mim, buscando o ar que eu o havia roubado, mas de repente, parando de se mover, ele havia ficado em silêncio e por algum motivo, eu sentia que ele me encarava fixamente. Sim, aquele foi o início de tudo. Quando ele me viu ali, quando alguém finalmente me viu enquanto eu desabava em lágrimas e os seus olhos, olhos acinzentados, me encararam por um longo tempo.

Srta. A

VERDADE ROUBADAOnde histórias criam vida. Descubra agora