Trigésima Quarta Anotação

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Depois de muito esperar, ele finalmente me perguntou:

"O que acha de darmos uma volta hoje?"

Ele e essa mania estranha de vagar pelas ruas da cidade como um verdadeiro despreocupado, no entanto, mesmo que eu não queira admitir, foi ótimo...

C sempre foi um homem livre, e sem um lugar fixo ou familiar para se apegar como a maioria das pessoas têm desde o momento em que nascem, dificilmente percebo traços de apego em suas ações, mas como ele sempre indaga quando eu me refiro a ele como alguém inexplicável, ele repete de maneira lasciva: "Eu não sou e nunca fui como as outras pessoas...", e isso faz cada vez mais sentido para mim, mesmo que eu o conheça há somente alguns anos.

Nas ruas estreitas e movimentas por lojas de vestuário e restaurantes, quase me pareceu que havíamos regredido cinco anos de volta ao passado, trocando piadas e empurrões até que um de nós quase caísse em uma das várias vitrines que passávamos.

As pessoas cruzavam por nós nos encarando, e eu quase acreditei que elas talvez estivessem se perguntando o porquê de estarmos tão sorridentes. Felizes e tranquilos depois de tanto tempo, mas nem eu mesma sabia exatamente o porquê, bem, não até eu realmente passar a olhar para nós mesmos, de braços enlaçados trocando sussurros e risadas contra a brisa da noite, e esse fato quase me fez chorar, chorar de alegria e ainda assim de tristeza, porque com tudo, eu havia me esquecido de nossas vidas, pois não fazíamos isso há... Eu verdadeiramente não sei, mas esse passeio realmente valeu a pena, muito mais a pena do que qualquer outra coisa que poderíamos ter feito após tanto tempo no escuro, e isso ficará, assim como as minhas outras preciosas lembranças, guardado a sete chaves...


Que tal uma sobremesa? Sugeriu ele, assim que paramos em frente a uma sorveteria, e um sorriso travesso tomou os meus lábios.

E você ainda pergunta?

Assim que entramos, seguimos o caminho que havia para uma mesa em frente à janela, de tal modo que ainda pudéssemos assistir a movimentação da cidade, e assim que fizemos os nossos pedidos, C cruzou as mãos sobre a mesa e eu finalmente havia entendido o porquê do seu bom humor.


Eu me lembro exatamente do gosto do sorvete em minha boca quando ele perguntou:

A, você se lembra da minha casa na montanha, em Vermont...?

Srta. A

VERDADE ROUBADAOnde histórias criam vida. Descubra agora