Quadragésimo Primeiro - Acontecimento

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A primeira vez que me vi em frente ao casal Woringthon, eles surgiram na porta do meu escritório em pleno início da tarde, enquanto eu simplesmente saía para mijar e, só talvez, fumar outro cigarro. Curiosamente, mesmo eu nunca sequer ter encontrado os dois por aí, a aparição repentina do casal foi algo que me causou uma estranha irritação, no entanto, quando encarei furiosamente Olivia – a recepcionista do nosso andar – por não ter me avisado sobre a espera dos possíveis clientes, ela me mostrou sutilmente – junto a um sorriso delicado – o dedo do meio em minha direção.

Mordi a parte interna de minha bochecha. Ela sabia que eu fugiria, não só deles, mas de qualquer outro cliente. Inferno de mulher.

- Boa tarde, podem entrar, por favor. – O meu olhar sutil foi notado por ela assim que eu o direcionei.

Tudo bem, se quer que eu trabalhe, eu irei trabalhar, mas com certeza eu irei desejar algo mais tarde como recompensa, e de tal modo, como se escutasse os meus pensamentos, com uma das mãos, ela fez um gesto de bebida em direção aqueles maravilhosos lábios carnudos pintados de vermelho, junto a outro rápido que preferi guardar somente para mim.

Marcado.

Infelizmente, minutos depois, eu não sabia se teria de fato um trabalho. Sentados à minha frente agora, eu tentava conter meu completo desinteresse enquanto falavam comigo. Algo que não era muito nobre de minha parte, afinal, um novo caso significava uma nova quantia em dinheiro chegando até mim, mas o que eu poderia fazer? Eu não estava sequer instigado com o que eu já havia escutado – ainda.

- Pagamos o quanto você propor a nós. – Enfatizou o Sr. Woringthon apertando um dos ombros da esposa para mantê-la próxima a si. Ela, alheia a nós, concentrava o seu olhar sobre as fotos que havia trazido a mim. – Isso não é um problema para nós.

Sim, aparentemente não era, assim como eu também teria que fazer uma relação à complexidade antes de falarmos em qualquer tipo de orçamento, no entanto, os Woringthon aparentavam um bom capital. Não uma quantia bilionária, mas ainda assim, o suficiente para eu notar a pequena bolsa Hermès que ela carregava ao colo, junto as suas demais roupas de grife, e o casaco do Sr. Woringthon com as reconhecíveis estampas internas xadrez do padrão Burberry pendurada ao encosto da cadeira.

- Muito bem... – Comecei me ancorando a mesa e oferecendo uma das mãos para que ela me entregasse as fotos. – Pode mostrá-las a mim?

- Helen... – Chamou ele com um leve toque em suas mãos para que ela as estendesse, logo as fotos chegaram até mim.

Inspirei fundo antes de continuar.

- Preciso de mais detalhes, então vamos recapitular e traçar uma linha cronológica do princípio, mas o básico para iniciarmos é: há quanto tempo ele está oficialmente dado como desaparecido?

David Woringthon não gostou da forma como pronunciei a última palavra de minha pergunta. As suas sobrancelhas grisalhas foram visivelmente puxadas para baixo bem diante de meus olhos.

Eu também não havia gostado da forma como as palavras saíram de minha boca, mas talvez seja pelo fato de eu não acreditar totalmente nelas.

Desta vez, Helen Woringthon tomou a iniciativa de falar comigo, algo que me surpreendeu devido ao seu silêncio total desde o momento em que pisou no meu escritório. Apenas me lembro de vê-la me cumprimentar com um aceno de cabeça e deixado seu marido tomar a frente, por isso supus que ela se manteria da mesma forma.

- Há um ano, onze meses e dezenove dias...

- Boa precisão, isso irá ajudar. – Não tive sucesso em alegrá-la. Na verdade, não houve efeito algum em qualquer um dos dois. Eles já possuíam uma certa idade que os faziam parecer apenas dois corpos velhos e cansados das dúvidas. Eu sempre enfatizo que o cansaço de manter uma "não conformidade" é terrível, e eu não sabia dizer ao certo qual das duas causas acima os havia afetado mais. – Já contrataram algum detetive particular?

VERDADE ROUBADAOnde histórias criam vida. Descubra agora