Décima Segunda Anotação

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Alguns momentos de nossas vidas podem ser comparados a rapidez de um estopim, e são eles que consequentemente trazem consigo o chamado início de um "Efeito Borboleta".

...

Por que nós estamos fazendo isso mesmo...? Indaguei timidamente, desviando a minha atenção para outro lugar, tentando a todo custo evitar cruzar o seu olhar, mas uma hora o outra, C me encontraria, ele sempre me encontrava, esbarrando-se em meu pequeno mundo sem dar a mínima à bagunça que estava fazendo, e não demorou muito para que eu avistasse o seu rosto de relance, sorrindo com aquela forma sarcástica de sempre.

Era quase impassível a sensação febril que me percorria naquela noite. De uma forma assustadoramente incontrolável, ele sempre me deixava sem ar a sua frente, quase que ofegante. Era como seu eu tivesse acabado de participar de uma maratona, e ainda inquieta, me lembro de analisar o espaço ao nosso redor da forma mais sutil que pude quando a sua atenção já não estava mais sobre mim, buscando inconscientemente a tão famosa rota de fuga da qual ele sempre se queixava sobre mim.

"Se acalme", eu repetia a mim mesma sem parar.

Sempre com o espírito livre, C é imprevisível e impulsivo. Há uma lista sobre ele em minha mente cheia de surpresa aos desconhecidos, mas eu nunca sequer cogitei a possibilidade de que ele me levasse para jantar em um local tão elegante. Não era algo do seu feitio controverso, ou pelo menos nunca achei que fosse, e eu fielmente acreditei que fosse mais uma de suas diversas brincadeiras, a fim de se divertir as minhas custas, mas...

Como eu já disse antes, eu queria levá-la para sair. Respondeu calmamente chamando a minha atenção enquanto pegava uma das taças à mesa. Naquela noite, vestindo uma camisa social de cor escura e deixando os botões da parte superior despreocupadamente abertos, ele me roubava olhares apenas ameaçando se colocar no meu campo de visão, e mesmo com as luzes baixas do restaurante, eu podia ver como o tecido leve moldava o seu corpo perverso. Despretensiosamente, o seu cabelo, escuro como a noite, também estava diferente do usual. Havia um desleixo proposital para deixá-lo daquela forma, me fazendo querer tocá-lo a todo momento... Eu quero que façamos isso mais vezes, assim como quero que você se distraia da sua rotina, mas se você não quiser...

Ele estava tão bonito...

Eu quero! Me recordo de ter dito mais alto do que eu gostaria quando me notei submersa nele, e não demorou muito para que o constrangimento viesse logo em seguida, como se tivesse sido convidado à mesa quando os seus olhos me capturaram com certa diversão acompanhados de outro sorriso. Aquele maldito e viciante sorriso. Ei, pode pedir outra garrafa de vinho igual a de antes?

Ele pareceu observar-me rapidamente, erguendo uma das sobrancelhas e ajeitando-se à cadeira a fim de se inclinar em minha direção.

Se você quer que eu te carregue para o meu apartamento, claro, e com todo o prazer se bem devo dizer... Espantada com as suas palavras, senti meu corpo travar.

Eu não estou bêbada e nem vou ficar. Os seus olhos acinzentados, e estranhamente sedutores naquela distinta ocasião, me analisaram sem piedade.

Não, mas só está com dificuldade para reconhecer um Petit Gâteau. Eu havia tomado um susto ao encarar o prato, afinal, somente na minha cabeça eu não estava tão ruim, mas podem ter certeza, o pior veio quando eu me levantei. Sim, já estamos na sobremesa e não, não se bebe vinho com elas, ou pelo menos não daquele tipo.

VERDADE ROUBADAOnde histórias criam vida. Descubra agora