Em meio ao silêncio, eu pude ouvir um ruído em na escuridão, e quando abri os meus olhos, o avistei de pé em frente a porta do quarto já entreaberta.
Talvez ele já estivesse lá há algum tempo, me observando. Algo que de início assombrou-me ao ponto de fazer com que eu voltasse a fechar os meus olhos com força, a fim de me encolher como uma criança ao canto da cama, de baixo das cobertas, no entanto, foi neste curto instante que eu pude ouvi-lo murmurar algo sobre a chuva lá fora, e após isso, eu automaticamente senti os meus músculos relaxarem, podendo assim me permitir sorrir por de baixo das cobertas.
Ele veio, pensei. E era apenas C, o verdadeiro, e minutos depois de escutá-lo voltar do closet, ao meu lado, eu sentia o colchão se afundar devagar conforme o peso de seu corpo, e de maneira alguma eu conseguia pensar em outra coisa.
Mesmo sem aparentemente se virar na minha direção, algo me deixava inquieta ali, tão inquieta que nada poderia explicar o que estava se movendo dentro de mim. Se remexendo a cada bombear de meu coração que aos poucos parecia querer aumentar o seu ritmo, como uma forma de alerta, um aviso, uma ameaça. É até mesmo clichê dizer que borboletas pareciam se debater contra as paredes do meu estômago, mas no final, percebi que eu apenas estava feliz por ele voltar a estar do meu lado. E sim, da forma mais puramente literal possível, e dentre essas várias estranhas emoções, por algum motivo a minha boca passou a se abrir por diversas vezes, mas nenhuma palavra conseguiu sair dela para chamá-lo, ou para ao menos dizer uma coisa sequer, e consequentemente, eu me peguei em um impasse.
Senti um dos meus dedos sendo levados a boca. Eu o mordia com perseverança.
Meu Deus, C... Sinceramente, eu temo só de pensar que talvez – e de uma maneira incondicional – você tenha me ensinado a não conseguir 'viver' sem você, e o pior de tudo, teve êxito nisso, no entanto, é quase evidente para mim que isso não pode ser verdade, até porque, se é realmente o que está acontecendo, não é você, mas sim eu quem está provocando esse pecado...
Mais uma unha havia sido roída.
Ah, a gente percebe tantas coisas ficando em silêncio, não é...?
Houve um balançar ao meu lado, e mesmo me mantendo imóvel, eu não pude identificar o que ele havia feito, no entanto, minutos mais tarde – ou até mesmo mais do que isso – aos poucos permiti que meu rosto fosse descoberto, e logo me vi de encontro com as suas costas, como uma muralha impermeável. O tecido de malha da camiseta seguia o contorno de seus músculos sinuosos e por alguma razão, conforme a sua respiração seguia o seu próprio ritmo, eu sentia que havia uma tensão sobre eles, algo que fez com que eu os tocasse de uma forma involuntária com a ponta dos meus dedos.
Infelizmente, eram poucas as vezes em que eu os via completamente relaxados.
Mesmo dormindo você...
O que foi...? Perguntou repentinamente, me assustando, logo a minha mão se afastou de suas costas, sendo levadas de encontro ao meu peito.
Q-quer me matar do coração? Ele me pareceu ignorar, e por alguma razão, timbre de sua voz havia mudado.
O que você estava fazendo?
Achei que você já estivesse dormindo. A sua cabeça ergueu-se por cima do ombro, logo ele virou-se na minha direção junto ao restante do seu corpo, ficando de frente para mim.
Isso não é uma boa desculpa. Retrucou brevemente.
Não é uma desculpa. Senti as minhas mãos apertarem com cuidado o travesseiro abaixo de minha cabeça conforme os seus olhos percorriam o meu rosto na procura de algo. Não vou mais atrapalhar seu sono. Ressaltei, logo um breve sorriso se formou em seus lábios, mas desapareceu quase que imediatamente quando os seus olhos se fecharam devagar em meio a um respirar profundo, e quando eu achei que nada mais sairia dali, foi quando ele sussurrou:
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VERDADE ROUBADA
RomanceAssinando os seus textos apenas com os pseudônimos "Srta. A" e "Sr. C", eles compartilham uma história... Após suportar uma repentina sequência de eventos assombrosos em sua vida, "A" se encontra em um desequilíbrio emocional quase irreparável, e qu...