Mesmo que tenham sido poucas as ocasiões, eu ainda me lembro de alguns dos nossos primeiros encontros e, oficiais ou não, dentre eles destaco os nossos breves momentos frente a frente junto ao entardecer na recatada e tranquila padaria de esquina que havia em nosso bairro, quando nos encontrávamos acidentalmente procurando por algo que não necessariamente estaria ali. No entanto, eu certamente nunca acreditei nestes "acidentalmente" que sempre dizíamos um ao outro de forma amigável quando nos esbarrávamos entre as mesas estreitas ou na entrada do extenso e mais antigo estabelecimento do bairro, já que diferente da maioria das pessoas, eu nunca tive um período em minha vida onde frequentei constantemente padarias, além desse, claro...
O que acha de sairmos hoje? Perguntei despreocupadamente tomando um gole de café enquanto ela me observava atentamente, e acreditei que se ela tivesse uma faca, com certeza estaria apontando para mim naquele instante.
Já estávamos ali há algum tempo e o meu esforço para que ela continuasse a minha frente felizmente havia sido recompensado, mas eu ainda precisava desarmá-la, como sempre.
Bem, já que você perguntou... Ela sorriu achando graça, mas eu já sabia o que viria em seguida. Não.
É claro.
Ora, você é realmente uma mulher cruel.
Ah, é? Então eu tenho pena de você. Novamente mais uma troca de olhares, mais sorrisos.
Me afastei da mesa apoiando as costas sobre o encosto da pesada e desconfortável cadeira de ferro abaixo de mim sem tirar a minha atenção do seu rosto e, imediatamente, ela notou o meu olhar presunçoso sobre ela.
O que foi? Questionou com desconfiança.
Bem, é você. Respondi devolvendo a ela um sorriso. Vamos lá, não me diga que é assim que vive. Você tem que se divertir um pouco às vezes... Antes que eu tivesse tempo de continuar, ergui as mãos de forma sutil em um sinal de rendimento quando o seu olhar repreendedor encontrou o meu. Ambos sabíamos que o meu conceito de diversão e o dela eram completamente diferentes, no entanto, ainda assim acrescentei: É apenas um passeio casual e posso contar algumas coisinhas interessantes sobre o "você sabe quem". Fiquei sabendo que ele anda de mal humor, não é?
Ela abaixou o olhar até os biscoitos amanteigados sobre o seu prato na mesa, pensativa demais para responder algo tão simples, e antes que ela racionalizasse demais a situação, eu intervi, pois somente eu tinha o conhecimento de que o motivo do mal humor comentado acima era a minha constante presença ao redor dela.
Ei, não me faça ficar de joelhos neste chão suspeito.
Um olhar travesso tomou conta do seu semblante em questão de segundos. Ela era como uma criança, finalmente descobrindo aos poucos o quanto a vida poderia ser divertida se conseguisse arriscar-se um pouco mais.
Isso eu gostaria de ver. Brincou e, em seguida, me inclinei na sua direção.
Se você quer ver alguém no chão, eu posso derrubar o atendente, ou aquele faxineiro ali, mas pense rápido, porque ele está vindo... Sussurrei passando a me erguer, logo uma de suas mãos chegaram até o meu braço, fazendo com que eu me sentasse novamente.
Onde você pensa que vai? Não, que horror!
Oh, que bom que reconsiderou. Era um teste.
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VERDADE ROUBADA
RomanceAssinando os seus textos apenas com os pseudônimos "Srta. A" e "Sr. C", eles compartilham uma história... Após suportar uma repentina sequência de eventos assombrosos em sua vida, "A" se encontra em um desequilíbrio emocional quase irreparável, e qu...